quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Marcas pelo corpo revelam o sofrimento causado por falta de segurança no trabalho



A recompensa de 33 anos como motorista é uma doença, que há um ano em busca de tratamento, nem ao menos se conseguiu descobrir o que é.

A profissão de motorista é acusada de causar doenças graves a quem se desafia todos os dias para desenvolver a função. Dores na parte inferior das costas, conhecidas como lombalgia, até os casos mais raros de trombose, quando um coágulo se forma dentro de um vaso na perna, afetando perigosamente a circulação sanguínea, estão associadas a muitas horas no volante e são cada vez mais comuns.

"Esse é um problema que não tem recebido a devida atenção, e na maioria das vezes pelo próprio afetado que é o motorista", lamenta o profissional motorista Euclides Alves de Souza, 63. O tempo dentro do caminhão se reflete sobretudo nos músculos e nos ossos, antes mesmo do que se possa imaginar.

Euclides é motorista desde 1980, morou no sítio até ter 22 anos e veio para a cidade em busca de uma profissão. Nesta caminhada foi autônomo durante 8 anos e neste período, não contribuiu com a Previdência Social. Hoje sofre a falta da aposentadoria, já que os anos se passaram depressa e o que ele herda na velhice são os graves problemas de saúde causados pelo labor. “O maior problema é que quando a gente é jovem, a gente quer e precisa trabalhar, mas não sabemos o real valor que nossa mão-de-obra possui. Dediquei os melhores anos da minha vida, a fase de minha maior energia ao trabalho e sempre fiz o que me foi proposto. Quantas vezes de ir para outra cidade, fazer a entrega e ter que passar a noite dentro do furgão de um caminhão em meio ao pó de caixa, cheiros de produtos de limpeza e até resíduos de venenos. Hoje, a recompensa está estampada em meu corpo”, desabafa o profissional.

EUCLIDES 01Ele está sofrendo com manchas que coçam muito e estão espalhadas pelo corpo todo, principalmente nas pernas. “Isso me deixa quase louco, quando ataca a crise de coceira penso que seria melhor morrer”, declara Euclides.

Para o diretor do Sitrovel (Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de Cascavel), Jonas Comissio, “Não sou especialista, mas tanto o que este homem inalou enquanto dormia dentro de um furgão, sem condições básicas de estrutura, como o calor do motor que sobe nas pernas do motorista que fica muitas horas na boleia, afeta a saúde de qualquer pessoa”.EUCLIDES 02

O motorista ainda afirma “Ninguém é super homem, temos necessidades físicas que se não respeitarmos, um dia sofreremos as consequências. Se vale um conselho para os jovens que estão iniciando nesta profissão, digo que respeite seu corpo, pois a infração que o organismo paga pela profissão não tem cifra que cubra. Além disso, filie-se ao sindicato, pois há pessoas que lutam junto conosco por nossos direitos. Se eu não fosse filiado, dependeria apenas do SUS (Sistema Único de Saúde) e sabe-se lá quanto tempo mais iria demorar para conseguir um exame”.

“Por causa deste tipo de situação é que o Sitrovel apoia a lei do motorista, uma lei que dá muita polêmica e o pior, há profissionais que não a aceitam, porque são comissionados e viram noites a base de remédios e drogas, só que mais tarde pagarão com a saúde, porque o corpo cobrará e caro pela irresponsabilidade”, ressalta Jonas.

Os médicos recomendam que a cada 50 minutos devemos fazer um alongamento dentro do ambiente de trabalho, mas isso é praticamente impossível para o motorista, por isso o que se recomenda é no mínimo respeitar a lei do descanso.


Fonte: Sitrovel

Nenhum comentário:

Postar um comentário