A
recompensa de 33 anos como motorista é uma doença, que há um ano em busca de
tratamento, nem ao menos se conseguiu descobrir o que é.
A profissão de motorista é acusada de causar doenças
graves a quem se desafia todos os dias para desenvolver a função. Dores na
parte inferior das costas, conhecidas como lombalgia, até os casos mais raros
de trombose, quando um coágulo se forma dentro de um vaso na perna, afetando
perigosamente a circulação sanguínea, estão associadas a muitas horas no
volante e são cada vez mais comuns.
"Esse é um problema que não tem recebido a devida
atenção, e na maioria das vezes pelo próprio afetado que é o motorista",
lamenta o profissional motorista Euclides Alves de Souza, 63. O tempo dentro do
caminhão se reflete sobretudo nos músculos e nos ossos, antes mesmo do que se
possa imaginar.
Euclides é motorista desde 1980, morou no sítio até ter
22 anos e veio para a cidade em busca de uma profissão. Nesta caminhada foi
autônomo durante 8 anos e neste período, não contribuiu com a Previdência
Social. Hoje sofre a falta da aposentadoria, já que os anos se passaram
depressa e o que ele herda na velhice são os graves problemas de saúde causados
pelo labor. “O maior problema é que quando a gente é jovem, a gente quer e
precisa trabalhar, mas não sabemos o real valor que nossa mão-de-obra possui.
Dediquei os melhores anos da minha vida, a fase de minha maior energia ao
trabalho e sempre fiz o que me foi proposto. Quantas vezes de ir para outra
cidade, fazer a entrega e ter que passar a noite dentro do furgão de um
caminhão em meio ao pó de caixa, cheiros de produtos de limpeza e até resíduos
de venenos. Hoje, a recompensa está estampada em meu corpo”, desabafa o
profissional.
EUCLIDES 01Ele está sofrendo com manchas que coçam muito
e estão espalhadas pelo corpo todo, principalmente nas pernas. “Isso me deixa
quase louco, quando ataca a crise de coceira penso que seria melhor morrer”,
declara Euclides.
Para o diretor do Sitrovel (Sindicato dos Trabalhadores em
Transportes Rodoviários de Cascavel), Jonas Comissio, “Não sou especialista,
mas tanto o que este homem inalou enquanto dormia dentro de um furgão, sem
condições básicas de estrutura, como o calor do motor que sobe nas pernas do
motorista que fica muitas horas na boleia, afeta a saúde de qualquer
pessoa”.EUCLIDES 02
O motorista ainda afirma “Ninguém é super homem, temos
necessidades físicas que se não respeitarmos, um dia sofreremos as
consequências. Se vale um conselho para os jovens que estão iniciando nesta
profissão, digo que respeite seu corpo, pois a infração que o organismo paga
pela profissão não tem cifra que cubra. Além disso, filie-se ao sindicato, pois
há pessoas que lutam junto conosco por nossos direitos. Se eu não fosse
filiado, dependeria apenas do SUS (Sistema Único de Saúde) e sabe-se lá quanto
tempo mais iria demorar para conseguir um exame”.
“Por causa deste tipo de situação é que o Sitrovel apoia
a lei do motorista, uma lei que dá muita polêmica e o pior, há profissionais
que não a aceitam, porque são comissionados e viram noites a base de remédios e
drogas, só que mais tarde pagarão com a saúde, porque o corpo cobrará e caro
pela irresponsabilidade”, ressalta Jonas.
Os médicos recomendam que a cada 50 minutos devemos fazer
um alongamento dentro do ambiente de trabalho, mas isso é praticamente impossível
para o motorista, por isso o que se recomenda é no mínimo respeitar a lei do
descanso.
Fonte: Sitrovel
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