segunda-feira, 27 de maio de 2013

Uma transportadora com mais de 788 mil caminhões


Para aqueles que ainda não sabem, o número expresso no título refere-se à quantidade de veículos de transporte de cargas que pertencem aos caminhoneiros autônomos.
Quem atua em logística, seja como usuário de empresas de transporte e logística ou operador do SLT (sistema logístico de transportes), do país, conhece o funcionamento do setor em relação aos caminhoneiros autônomos.
Os caminhoneiros não prestam serviços diretamente às empresas usuárias do SLT (indústria, comércio, agronegócio e serviços), e sim para as empresas operadoras do sistema (transportadoras rodoviárias, transportadoras multimodais e operadoras logísticas).
Outro fato conhecido pelos profissionais que conhecem o setor está relacionado ao baixo valor que o caminhoneiro autônomo recebe pelos serviços prestados. A evidência desta afirmação pode ser verificada nas informações sobre a idade média da frota, que gira em torno dos 20 anos.
Além disso, é público e notório que os caminhoneiros excedem a jornada normal de trabalho, que gira em torno 12 a 14 horas diárias.
É pacífico afirmar que a categoria é refém do SLT, mas este cenário é no mínimo incompreensível. Constata-se também que esta categoria possui elevado peso na matriz modal do país e neste contexto, poderiam exigir mais em relação ao que recebem, mas não é o que ocorre.
Soa no mínimo bizarro. Como pode uma categoria que sozinha representa cerca de 30% do transporte de cargas do país, ser refém do Sistema?
A resposta é simples: Mudar este cenário não interessa a nenhum stakeholder do sistema logístico de transportes do país, exceto os caminhoneiros.
Apenas para lembrar, o SLT é formado pelos usuários e operadores (citados anteriormente), e também o governo, a quem cabe planejar e executar obras de infralogística e fiscalizar o funcionamento do Sistema.
A criação de uma mega transportadora de cargas, formada pelos caminhoneiros autônomos, provocaria uma reacomodação radical do Sistema, gerando perdas para todos. Diante disso, cada ator do SLT tem seus próprios interesses em não mudar esta situação.
As empresas operadoras do Sistema usam os caminhoneiros como uma extensão da sua capacidade de transporte. Neste contexto, são capazes de ajustar a sua oferta de frota às demandas de seus clientes.
Se não existir mais caminhoneiros autônomos, os operadores terão a sua oferta restrita à sua frota e os usuários deverão planejar muito melhor as suas necessidades de serviços de transporte.
Isto de certo modo seria bom, uma vez que disciplinaria as necessidades logísticas das indústrias, em relação aos picos de transporte nos finais de meses originados pela insanidade das metas de faturamento.
Além disso, haveria uma diminuição de faturamento das empresas operadoras do SLT.
Por sua vez o governo tem receio de estimular a criação da mega transportadora, em razão da excessiva dependência do SLT em relação à empresa.
Os únicos que sairiam ganhando seriam os caminhoneiros autônomos, pois receberiam mais pelos seus serviços sem o atravessamento das empresas operadoras do SLT.
Com atores de tanto peso contra a criação da mega transportadora, certamente será algo difícil, mas certamente não impossível.


Fonte: Blog do caminhão

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