Para aqueles que ainda não sabem, o número expresso
no título refere-se à quantidade de veículos de transporte de cargas que
pertencem aos caminhoneiros autônomos.
Quem atua em
logística, seja como usuário de empresas de transporte e logística ou operador
do SLT (sistema logístico de transportes), do país, conhece o funcionamento do
setor em relação aos caminhoneiros autônomos.
Os caminhoneiros
não prestam serviços diretamente às empresas usuárias do SLT (indústria,
comércio, agronegócio e serviços), e sim para as empresas operadoras do sistema
(transportadoras rodoviárias, transportadoras multimodais e operadoras
logísticas).
Outro fato
conhecido pelos profissionais que conhecem o setor está relacionado ao baixo
valor que o caminhoneiro autônomo recebe pelos serviços prestados. A evidência
desta afirmação pode ser verificada nas informações sobre a idade média da
frota, que gira em torno dos 20 anos.
Além disso, é
público e notório que os caminhoneiros excedem a jornada normal de trabalho,
que gira em torno 12 a 14 horas diárias.
É pacífico afirmar
que a categoria é refém do SLT, mas este cenário é no mínimo incompreensível.
Constata-se também que esta categoria possui elevado peso na matriz modal do
país e neste contexto, poderiam exigir mais em relação ao que recebem, mas não
é o que ocorre.
Soa no mínimo
bizarro. Como pode uma categoria que sozinha representa cerca de 30% do
transporte de cargas do país, ser refém do Sistema?
A resposta é
simples: Mudar este cenário não interessa a nenhum stakeholder do sistema
logístico de transportes do país, exceto os caminhoneiros.
Apenas para
lembrar, o SLT é formado pelos usuários e operadores (citados anteriormente), e
também o governo, a quem cabe planejar e executar obras de infralogística e
fiscalizar o funcionamento do Sistema.
A criação de uma
mega transportadora de cargas, formada pelos caminhoneiros autônomos,
provocaria uma reacomodação radical do Sistema, gerando perdas para todos.
Diante disso, cada ator do SLT tem seus próprios interesses em não mudar esta
situação.
As empresas
operadoras do Sistema usam os caminhoneiros como uma extensão da sua capacidade
de transporte. Neste contexto, são capazes de ajustar a sua oferta de frota às
demandas de seus clientes.
Se não existir mais
caminhoneiros autônomos, os operadores terão a sua oferta restrita à sua frota
e os usuários deverão planejar muito melhor as suas necessidades de serviços de
transporte.
Isto de certo modo
seria bom, uma vez que disciplinaria as necessidades logísticas das indústrias,
em relação aos picos de transporte nos finais de meses originados pela
insanidade das metas de faturamento.
Além disso, haveria
uma diminuição de faturamento das empresas operadoras do SLT.
Por sua vez o
governo tem receio de estimular a criação da mega transportadora, em razão da
excessiva dependência do SLT em relação à empresa.
Os únicos que
sairiam ganhando seriam os caminhoneiros autônomos, pois receberiam mais pelos
seus serviços sem o atravessamento das empresas operadoras do SLT.
Com atores de tanto
peso contra a criação da mega transportadora, certamente será algo difícil, mas
certamente não impossível.
Fonte: Blog do caminhão
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