segunda-feira, 27 de maio de 2013

O Brasil para sem caminhão



No tempo em que as frases de para-choque eram uma peculiaridade dos caminhões, surgiu uma mensagem simples e direta rodando as estradas: “sem caminhão, o Brasil para”. Hoje, as placas caíram de moda e é raro encontrar inscrições engraçadinhas nas rodovias.
A frase, entretanto, é mais atual do que nunca em um país que priorizou vertiginosamente o transporte de cargas pelo ramal rodoviário. Viajando por um desses Caminhos da Safra pudemos comprovar que a eficácia dessa modalidade de transporte, por mais ineficaz que pareça, depende quase que exclusivamente dos caminhões.
Há, no entanto, o lado humano da estrada, sempre o mais importante. No percurso entre Maracaju e Paranaguá encontramos diversos carreteiros e pudemos conhecer, ao menos em parte, aspectos de uma lida dura.
Gente como José Francisco Paruchi, um paulista de 65 anos que, há muito vivendo no Paraná, já se considera cidadão do Estado. Como muitos dos seus colegas ele reclama do preço dos pedágios e do frete, que vem caindo muito nos últimos tempos. Mas o pior, nos contou seu Francisco, é a falta de condições adequadas para o pouso.
Nas estradas, há postos de combustíveis que só permitem o pernoite se o caminhoneiro abastecer com uma quantidade mínima. Pode-se imaginar os riscos de um motorista cansado sendo obrigado a dormir nos acostamentos ou a voltar para a pista. Outra reclamação constante é a cobrança abusiva pelos banhos. “Virou comércio. Tem posto cobrando 10 reais por um banho”, diz seu Francisco.
As queixas são consensuais entre os motoristas com quem conversamos, mas eles divergem sobre a lei dos caminhoneiros que, em vigor desde março, parece que não pegou. Uns reclamam porque querem dirigir além das horas estabelecidas para as paradas ou porque não existem nas estradas locais adequados para o descanso obrigatório. Outros, como o próprio seu Francisco, acreditam que a lei vai beneficiar os carreteiros, mas sabem que é preciso colocar o texto em prática.
Há muitos interesses em jogo. Na queda de braço entre o Brasil que precisa transportar e o brasileiro que faz o transporte, o caminhoneiro segue, com braços de ferro, por entre o asfalto e os buracos do chão.


Fonte: Blog Caminhos da Safra

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