No tempo em que
as frases de para-choque eram uma peculiaridade dos caminhões, surgiu uma
mensagem simples e direta rodando as estradas: “sem caminhão, o Brasil para”.
Hoje, as placas caíram de moda e é raro encontrar inscrições engraçadinhas nas
rodovias.
A frase, entretanto, é mais atual
do que nunca em um país que priorizou vertiginosamente o transporte de cargas
pelo ramal rodoviário. Viajando por um desses Caminhos da Safra pudemos
comprovar que a eficácia dessa modalidade de transporte, por mais ineficaz que
pareça, depende quase que exclusivamente dos caminhões.
Há, no entanto, o lado humano da
estrada, sempre o mais importante. No percurso entre Maracaju e Paranaguá
encontramos diversos carreteiros e pudemos conhecer, ao menos em parte,
aspectos de uma lida dura.
Gente como José Francisco
Paruchi, um paulista de 65 anos que, há muito vivendo no Paraná, já se
considera cidadão do Estado. Como muitos dos seus colegas ele reclama do preço
dos pedágios e do frete, que vem caindo muito nos últimos tempos. Mas o pior,
nos contou seu Francisco, é a falta de condições adequadas para o pouso.
Nas estradas, há postos de
combustíveis que só permitem o pernoite se o caminhoneiro abastecer com uma
quantidade mínima. Pode-se imaginar os riscos de um motorista cansado sendo
obrigado a dormir nos acostamentos ou a voltar para a pista. Outra reclamação
constante é a cobrança abusiva pelos banhos. “Virou comércio. Tem posto
cobrando 10 reais por um banho”, diz seu Francisco.
As queixas são consensuais entre os
motoristas com quem conversamos, mas eles divergem sobre a lei dos
caminhoneiros que, em vigor desde março, parece que não pegou. Uns reclamam
porque querem dirigir além das horas estabelecidas para as paradas ou porque
não existem nas estradas locais adequados para o descanso obrigatório. Outros,
como o próprio seu Francisco, acreditam que a lei vai beneficiar os
carreteiros, mas sabem que é preciso colocar o texto em prática.
Há muitos interesses em jogo. Na queda
de braço entre o Brasil que precisa transportar e o brasileiro que faz o
transporte, o caminhoneiro segue, com braços de ferro, por entre o asfalto e os
buracos do chão.
Fonte: Blog Caminhos da
Safra
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