quinta-feira, 28 de março de 2013

Como descansar, se a fila anda?




Reportagem da Carga Pesada foi até o terminal da ALL em Mato Grosso para verificar a situação dos caminhoneiros
Nos terminais de transbordo da ALL em Mato Grosso, transportadores de soja não têm como usufruir da Lei do Descanso, porque precisam ir puxando o caminhão em lentas filas que duram mais de 24 horas. E descobrimos que outros problemas de todos os anos – falta de banheiros e de restaurante decentes, mau cheiro do lixo acumulado e até o risco de levar picada de cobra – continuam presentes, apesar da negativa da ALL em notas que não condizem com a realidade
Dia 4 de março, havia uma fila de 60 km na BR-364, com os caminhões parados na pista
A Lei do Descanso (12.619), que ainda está longe de ser cumprida à risca, teve um efeito importante sobre o transporte de grãos na atual safra em Mato Grosso. Os caminhoneiros empregados estão trabalhando menos, deixando de dirigir madrugada adentro. Ao contrário do que se imagina, não é a falta de vagas de estacionamento a maior inimiga da lei por lá. Esse problema os motoristas driblam estacionando em grupo nas entradas das fazendas, alguns nos acostamentos.
O bicho pega de verdade quando eles se aproximam dos terminais de transbordo da soja para o trem. Nesses locais, continuam existindo filas intermináveis, que dão um passinho de cada vez, 24 horas todos os dias. Desse jeito, como descansar 11 horas seguidas entre dois dias, como manda a lei?
De 20 a 23 de fevereiro, a reportagem da Carga Pesada esteve em Rondonópolis e percorreu a BR-364 até o terminal da ALL em Alto Araguaia. Conversamos com dezenas de caminhoneiros. “Como é que a gente vai descansar com esse alto-falante gritando o tempo todo?”, questionou o empregado Nivair Belo Mesquita, de Santa Elvira (MT). Ele estava no pátio principal do terminal.
No local, segundo a ALL, cabem 500 veículos, e os motoristas esperam em filas de até um quilômetro – isso quando o pátio principal e o outro, no extremo oposto do terminal, não estão lotados. Porque, se estiverem, as filas avançam pela rodovia. “Aqui, a gente escuta o alto-falante, mas lá no final da fila é o funcionário que bate na janela para nos acordar”, conta Mesquita. Essa função dura 24 horas porque o terminal não para.
Embora a ALL diga que a espera em Alto Araguaia dure em média cinco horas, nos dias em que a reportagem esteve por lá nunca foi menor que 24 horas. “Quando a fila alcança a rodovia, a gente fica até três dias esperando”, conta José Gilberto Dozzi Tezza, de São Paulo.
E o problema não é só a fila. No pátio, os locais para higiene e alimentação são de doer. Tem gente que já encontrou cobras! “A bem dizer, fazem o que querem com a gente. Hoje fiquei duas horas na fila da pista. Veio a Polícia Rodoviária e jogou a gente no outro pátio, onde não há condições para nada”, desabafa Tezza.
Ademir Teixeira de Souza, de Alto Paraná (PR), faz a mesma queixa. “A gente fica lá (no segundo pátio) dois dias sem tomar banho. E de vez em quando encontra uma cascavel. Aqui (no pátio principal), o restaurante é uma nojeira. E temos que andar mais de um quilômetro pra fazer a classificação”, afirma. O guichê onde um funcionário da ALL recebe os documentos da carga fica no extremo oposto à entrada.
Nivair Mesquita puxa soja para Alto Araguaia há três anos. Tem autoridade para dizer: “Não temos água pra beber e sempre falta para o banho. Quando tem água no banheiro, é fria porque cortaram os fios do chuveiro. As cascavéis tropeçam uma na outra. E o lixo está sempre fedendo”.
De fato, na noite do dia 23, como constatou a Carga Pesada, os motoristas esperavam pela volta da água no banheiro. E os fios dos chuveiros estavam cortados.
Fonte:  Fetropar

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