Um
modismo inocente, mas perigoso. É cada dia mais comum encontrar caminhões e carretas com eixos
traseiros elevados além da altura normal. A alteração não tem outra motivação
que não a estética. Os caminhoneiros gastam até R$ 1.200 para acrescentar
calços sob a mola – ou mesmo molas adicionais – só para deixar o bruto mais
“invocado”.
O engenheiro especializado em transporte Rubem Penteado de Melo diz
que a mudança põe em risco a estabilidade e a durabilidade do veículo. “Há um
impacto grande. A elevação traseira transfere mais peso para os eixos
dianteiros, comprometendo a estabilidade”, afirma.
Outro problema, segundo Melo, é
que o cardã fica muito inclinado. “Assim, o diferencial vai ‘roncar’ e causar
danos ao rolamento”, declara. Além disso, de acordo com ele, ao fazer a
alteração, muda-se a altura do para-choque traseiro, que perde sua função.
A reportagem apurou que algumas
concessionárias já entregam implementos novos com a mudança, se isso for
solicitado pelo comprador. “Acabei de tirar uma carreta zero quilômetro e já saí da
concessionária com o calço. Paguei R$ 1.200”, conta um caminhoneiro autônomo,
de 42 anos, do Paraná. No caso dele, a traseira do implemento ficou 12
centímetros mais alta.
Outro motorista, de 29 anos,
contou que colocou mais molas entre as originais da carreta para elevar o eixo
traseiro em 20 centímetros. “Fiz porque fica bonito”, justifica ele, que pagou
R$ 1 mil pelo serviço num posto de mola de Maringá. “Essa moda começou com os
trucks já faz muito tempo. Depois, veio para as carretas”, declara.
Legal ou ilegal?
Segundo a Associação Nacional dos
Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir), a mudança é ilegal porque vai
contra o artigo 8º da resolução 292/08 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que proíbe ”alteração
das características originais das molas do veículo, inclusão, exclusão ou
modificação de dispositivos da suspensão”.
Mas a assessoria do Departamento
Nacional de Trânsito (Denatran) diz o contrário. Em resposta a uma solicitação
da reportagem, o órgão respondeu: “Desde que respeitado o limite de peso por
eixo, como prevê a Resolução 430 do Contran, não há problema (em fazer a
elevação do eixo)”. Pelo menos até dezembro deste ano, a tolerância máxima é de
7,5% por eixo.
Nem todo Detran faz a alteração no
documento do caminhão. No Paraná, por exemplo, os técnicos informam que, de
acordo com a legislação, a mudança no documento só é necessária para veículos
com até 3,5 toneladas de Peso Bruto Total (PBT). Com isso, os motoristas ficam
sujeitos a problemas em blitze, caso o policial seja rigoroso no cumprimento de
sua função e perceba que a altura da carreta não condiz com a descrita no
documento.
“Moda ridícula”
A reportagem está abordando esse
assunto por sugestão do empresário Emílio Dalçoquio, diretor operacional da
Dalçoquio Transportes de Santa Catarina. Segundo ele, por lá, a elevação do
eixo traseiro virou uma febre. “É mais uma moda ridícula como tantas outras que
surgem ao longo dos tempos, assim como antigamente homem para ser homem tinha
de fumar e usar chapéu”, afirma.
Para ele, o fenômeno é coisa de
caminhoneiro jovem “vítima da jogada de marketing” dos postos de molas. Mas há
aqueles que apostam em teorias mentirosas. “Alguns acham que caminhões com eixo
traseiro erguido ficam mais firmes nas curvas. Evidente que um verdadeiro
caminhoneiro profissional não cai nessa ideia absurda”, declara.
Dalçoquio alega que a alteração
prejudica a suspensão dianteira do veículo “bem como o embuchamento da barra
estabilizadora dianteira” principalmente quando o caminhão passa em buracos e
cabeceiras de pontes. “Consequentemente deixa dúvida sobre o bom funcionamento
do veículo na próxima curva”, ressalta.
Ele acrescenta outro fato fácil
de explicar pela física. “Em caso de uma brusca frenagem, o eixo traseiro
erguido facilita o deslocamento da carga para frente”, diz Dalçoquio. O
empresário destaca que isso coloca em risco a segurança do próprio motorista.
Fonte:
Revista Carga Pesada
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