terça-feira, 8 de outubro de 2013

Líder de multas, excesso de velocidade poderia ser evitado com radares escondidos, defende especialista


Nos últimos três anos, o ranking tem sido o mesmo. Desde 2011, as três principais infrações cometidas no trânsito em São Paulo são excesso de velocidade, desobediência do rodízio e estacionamento em local proibido. Em 2012, com uma frota de mais de 7 milhões de veículos, foram quase 10 milhões de multas.

Neste ano, entre janeiro e julho, foram aplicadas mais de 5,6 milhões de autuações na cidade, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Excesso de velocidade foi responsável por 1,7 milhões de multas. Para Percival Bisca, consultor de trânsito e professor de Engenharia de Transporte da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) , o número dessas multas poderia ser reduzido se não houvesse avisos sobre a presença de radares.

— Hoje, o poder público é obrigado a avisar que tem radar, mas o correto seria o contrário. O motorista não pode saber onde está o radar. Porque se ele não souber e, portanto, pode ter em qualquer ponto, a tendência vai ser obedecer o limite sempre.

Segundo o professor, com o aviso dos radares, o motorista que tem o hábito de trafegar acima da velocidade permitida, não costuma ser multado.

— Tem dois tipos de motorista que excedem a velocidade. O que está muito atento aos radares, que raramente é multado, embora muitas vezes ele trafegue em excesso [de velocidade] onde não tem radar, e tem aquele que se distrai e ultrapassa o limite. O sistema de multa de velocidade é ruim. Não tem que avisar onde tem radar.

Fiscalização

O consultor destaca também que o número de multas está bastante relacionado à fiscalização e não necessariamente à infração mais cometida pelo motorista. Dirigir falando ao celular, por exemplo, é a sexta infração mais comum em 2013 — com mais de 210 mil multas. No entanto, o número de condutores que tem esse hábito é maior.

— Quem não fala ao celular ao volante que atire a primeira pedra. Com radar é muito mais fácil multar, o que não está errado. Tem que multar mesmo.

Sergio Ejzenberg, mestre em transportes pela escola politécnica da USP (Universidade de São Paulo) e consultor de trânsito, concorda que a forma de fiscalização faz diferença nos números.

— Por que essas infrações são tão autuadas? Porque essas são cometidas e fiscalizadas com eficiência.

Ejzenberg acredita que esse tipo de fiscalização do excesso de velocidade é importante.

— A velocidade elevada é incompatível com o resto da cidade e tem que fiscalizar mesmo. A cidade de São Paulo é uma das cidades mais seguras no Brasil em relação a trânsito e ao número de mortos no trânsito.

Rodízio

Apesar dos especialistas concordarem que as multas são importantes para mudar os hábitos dos motoristas, quando o assunto é o rodízio de veículos, a história é um pouco diferente. Com 1,2 milhões de multas no primeiro semestre de 2013 — e 2,1 milhões em 2012 e 2,6 milhões em 2011 —, a fiscalização causa certa polêmica.

Para os consultores, quem ultrapassa o limite de velocidade e estaciona em local proibido sabe que está errado. Já no caso do rodízio, pode haver uma infração involuntária, como explica Ejzenberg.

— Você pode ter uma viagem atropelada por um problema de trânsito. Não digo do congestionamento habitual, mas quando ocorre algo anormal, o que é fácil de saber pelos dados da CET, poderia ser associado uma tolerância maior ao motorista. Quantas dessas multas são infrações descaradas do motorista e quantas são casos de armadilhas do trânsito?

Percival, morador de Campinas, no interior de São Paulo, concorda. Ele conta que já foi multado por rodízio diversas vezes por não lembrar da norma da capital paulista.

— Eu acho que deliberadamente a pessoa não vai sair no dia do rodizio sabendo que vai tomar multa. Eu não moro em São Paulo e já tomei muita multa porque quando vou para São Paulo esqueço que é dia de rodizio. Seria interessante saber até que ponto os multados por isso são placas de fora da cidade.

No entanto, mesmo com ressalvas ao sistema de multas, Percival defende a prática.

— Não acredito em indústria de multa. Multar é necessário. Acho que a multa complementa a educação, mas temos muito a aperfeiçoar nesse sistema.


Fonte: R7

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