Na gestão do trânsito há três grandes grupos de ações e sistemas, que formam um tripé de sustentação de sua segurança: a Educação para o trânsito, o Esforço Legal (leis e fiscalização) e a Engenharia. Todos possuem um papel proeminente para que a segurança e fluidez do trânsito sejam efetivas e eficazes.
A Engenharia de Tráfego, aqui enfocada, é quem deve projetar e construir os sistemas, fazer manutenção e sinalizar as vias, com um enfoque direcionado, principalmente, à segurança. Na Engenharia estão contidos todos os fatores físicos das vias, seu planejamento, plano de operação, etc.
A Engenharia é quase sempre omitida como corresponsável pela ocorrência de acidentes. Para que o leitor tenha uma noção mais clara daquilo que me refiro, vou citar dois casos escandalosos em Bauru. Falo de duas alças de saída na área urbana da Rodovia Mal. Rondon. Uma na zona sul, nas proximidades da Avenida Mário Mattosinho (continuação da Av. Getúlio Vargas) e outra na Avenida Nuno de Assis.
Estes dois pontos críticos, em termos de conflitos de tráfego, são uma aberração. No dispositivo da zona sul, os veículos saem com alta velocidade da Rondon e, em cerca de 100 metros, se deparam com uma marginal da rodovia e uma rotatória de dimensão pequena. É um conflito perigosíssimo entre a alta velocidade de quem sai da rodovia e a baixa velocidade daqueles que estão trafegando pela zona urbana. O fato é tão gritante que, diariamente, à noite, fica parada no local uma viatura da Polícia Rodoviária.
No acesso da Nuno, além da geometria do cruzamento entre a alça de saída da rodovia e a Avenida Nuno de Assis ser totalmente inadequada, há um declive acentuado. Nos períodos de pico, o movimento de veículos da Nuno, em direção aos bairros Santa Luzia e Mary Dotta, é muito maior do que o fluxo oriundo da alça. Ainda assim, este último tem a preferência. Isto causa grandes congestionamentos, em nível daqueles normalmente vivenciados por paulistanos.
A falta de iluminação transforma o local em uma verdadeira roleta russa. A visibilidade daqueles que precisam dar a preferência de tráfego é reduzida. Além disso, a faixa de desaceleração das alças de saída, nos dois casos, possuem extensões reduzidas. A geometria desses locais precisa ser melhorada.
O projeto de duplicação da Marechal Rondon, na zona urbana de Bauru, trouxe consigo falhas gritantes, ainda que na época os problemas de trânsito fossem menos graves. No entanto, quando se projeta obras desta magnitude deve-se sempre pensar também no médio e longo prazos. A não construção do viaduto da Av. Cruzeiro do Sul foi outra omissão imperdoável.
Urge que as autoridades tomem as devidas providências, afinal, o pedágio é caro, o IPVA é altíssimo, o IPTU, também, e as pessoas têm o direito a um sistema viário seguro. Ou vão esperar que mortes ocorram?
O autor, Archimedes A. Raia Jr., é engenheiro, especialista em segurança viária, doutor em Engenharia de Transportes, professor associado da UFSCar e diretor de Engenharia da Assenag)
Fonte: JCNet
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