Diretor da Associação Brasileira
de Medicina de Tráfego contou à comissão criada para mudar a Lei do Descanso
que a profissão de motorista é penosa, estágio que vai além da insalubridade
Nelson Bortolin
O diretor da Associação Brasileira de Medicina de
Tráfego (Abramet), Dirceu Rodrigues Alves Júnior, falou nesta quarta-feira (10)
na comissão especial criada pelo agronegócio na Câmara para alterar a Lei
12.619, a Lei do Descanso. Ele mostrou que a profissão de caminhoneiro é mais
do que insalubre, chega à penosidade – situação em que o corpo e a mente do
profissional são exigidos mais do que poderiam.
Mesmo tendo sido convidado, ele foi ironizado pelo
presidente da comissão, o deputado ruralista Nelson Marquezelli (PTB-SP).
“Depois de uma explanação desta, eu não sei se extingo os caminhões ou acabo
com o trabalho no País”, afirmou rindo o deputado após a fala do médico. Para
Marquezelli, “não dá para falar em paraíso, ainda não tem conto de fadas”. E o
trabalho “tem todas as complicações necessárias”.
A comissão, que está em fase de conclusão de seus
trabalhos, deve propor mudanças significativas na lei, uma vez que o
agronegócio está preocupado com o aumento nos fretes. O tempo de descanso de 11
horas, entre dois dias de trabalho, deve ser reduzido para 8 horas, ou até 6
horas. E o intervalo de 4 horas para paradas de meia hora durante a jornada,
tende a ser estendido para 6,5 horas.
O diretor da Abramet relatou ao grupo quais são as
principais doenças profissionais que atingem o caminhoneiro. Dor lombar, hérnia
de disco, zumbido no ouvido, surdez, artrose e tendinites são algumas delas.
“Além do desgaste físico, o motorista sofre o mental, pelo medo de ser
assaltado, sequestrado e morto. E também o fato de estar distante da família”.
O médico disse que o caminhoneiro passa de 12 a 14
horas exposto a vibrações do corpo inteiro, que são capazes de alterar sua
frequência respiratória, levando-o ao final da jornada a uma fadiga intensa. E
lembrou do calor intenso na boleia que, segundo ele, pode chegar a 48 graus.
Há também, de acordo com o diretor da Abramet, os
riscos biológicos pela exposição a cargas vivas e mortas, que podem conter
bactérias e vírus. “Ficam nas roupas do motorista e ele os leva para a boleia,
onde dorme”, descreve o médico. “Fora aqueles que viajam para locais do País,
onde ficam expostos a doenças tropicais, como febre amarela e esquistossomose”,
complementou.
Alves Júnior diz que a função do caminhoneiro
“passa pela insalubridade e pela periculosidade e chega a penosidade, que é a
situação em que o homem dá mais do que é capaz”. Ele comparou com outros
ofícios que não chegam a ser penosos, como os de médicos, atendentes de
telemarketing e bancários. Por isso, de acordo com o diretor, esses
profissionais exercem carga horária de 6 horas. Dirigir um caminhão por até 14
horas, de acordo com o diretor, é uma situação “alarmante”.
“Após dirigir 4 horas, os estudos mostram que o
indivíduo tem lapso de atenção. Com 8 horas, tem queda de atenção. O sujeito
que dirige mais que 8 horas tem 2,5 vezes mais chances de acidentes”, afirma. A
saúde física e mental deste profissional, de acordo com ele, está extremamente
prejudicada. “Isto é cientificamente, neurologicamente comprovado”.
Pesquisas mostram, segundo ele, que 56% dos
indivíduos dormem na direção e que 60% dos acidentes acontecem por fadiga ou
privação de sono. “O homem é o maior patrimônio das rodovias. Ele transporta a
riqueza do nosso País”, declarou, para logo em seguida ser ironizado por
Marquezelli.
Fonte: Fetropar
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