O setor
de transportes terrestre paranaense sofre com a falta de motoristas
profissionais. Segundo estimativa do Sindicato das Empresas de Transporte de
Cargas no Estado do Paraná (Setcepar), atualmente há demanda de 5 mil vagas de
caminhoneiros para suprir as necessidades dos transportadores do Estado. A
situação não é diferente no resto do País. De acordo com dados da Associação
Nacional dos Transportadores de Carga & Logística (NTC&Logística), o
Brasil tem déficit de 120 mil motoristas.
Entidades do setor apontam a
falta de segurança, as condições das estradas e o tempo longe da família como
os principais fatores para a baixa procura pela profissão. “Trata-se de
atividade que é preciso gostar de viajar e ter espírito para a coisa. Quem
entra nessa precisa saber de todos os prós e contras da profissão. E o salário
não é ruim. Hoje o caminhoneiro pode ganhar de R$ 1,5 mil até R$ 5 mil. Mas
infelizmente não estamos conseguindo preencher as vagas que o mercado oferece”,
diz Gilberto Cantu, presidente do Setcepar.
Romantismo
De acordo com Cantu, a atual
situação da economia brasileira também favorece para que a profissão de
motorista não seja mais tão procurada. “Antigamente ser caminhoneiro era uma
atividade mais romântica, passava de pai para filhos, as crianças queriam
trabalhar na estrada. Mas hoje não. Os pais caminhoneiros querem seus filhos
estudando e seguindo outra profissão e hoje o País oferece essa oportunidade
com mais facilidade. Além disso, há muita oferta de emprego, seja na indústria
ou no comércio, e isso faz com que os profissionais busquem oportunidades mais
seguras, perto de suas famílias”, explica.
O Sindicato dos Trabalhadores,
Motoristas em Geral e Ajudantes de Caminhão do Paraná (Sintracarp) também
confirma a falta de mão de obra nas estradas brasileiras. “Sabemos dessa
situação e não vejo, a médio ou curto prazo, solução para suprir essa
necessidade. O Brasil mudou e muitos estão procurando outros caminhos
profissionais. Além disso, a violência é grande nas estradas, não há estrutura
para a lei de descanso e as condições de trabalho estão cada vez piores”,
alerta o presidente da entidade, Lourival Vieira.
Ajuda estrangeira
Para tentar diminuir esse
déficit, o Setcepar procura solução nos países vizinhos. Até o final do ano, a
entidade quer colocar no mercado cerca de 15 motoristas vindos da Argentina,
Paraguai e Colômbia. “É o projeto piloto que visa a vinda desses profissionais
para preencher essas vagas abertas. O processo está em andamento. Estamos
conversando com o Ministério do Trabalho e o Detran para acertar todos os
pontos relacionados às leis trabalhistas e às carteiras de habilitação”, afirma
Cantu. “É uma situação que atinge a nós, empresas, e a economia do Estado, e
estamos tentando resolver”.
Mantida tradição de família
Apesar de todas as dificuldades
da profissão, ainda há quem queira fazer a carreira na estrada. É o caso da
motorista Cristina Bernini, que já dirige caminhões menores e agora quer
encarar os gigantes da estrada. Ela, que é de família de caminhoneiros, afirma
que sabe dos contras da profissão, mas não pensa em fazer outra coisa da vida.
“Já é tradição familiar. Então
sempre convivi nesse meio e já trabalho com isso. Sei bem que as estradas estão
violentas, com assaltos e acidentes, mas é o que eu sei e o que eu gosto de
fazer. Além disso, o salário é atrativo. É uma profissão que tem seus riscos,
mas quero encarar esses riscos”, afirma.
Ela está fazendo o curso de
motorista no Sest/Senat de Curitiba e afirma que em breve quer estar nas
estradas, seguindo a profissão que sempre desejou. “O curso ensina muita coisa
que eu acho que vai me ajudar no mercado. Dirigimos todos os dias e aprendemos
principalmente a lidar com a tecnologia dos caminhões. No começa assusta, mas
depois é tranquilo e você percebe que a direção fica mais tranquila e segura”,
conta.
Cursos são gratuitos
Observando a dificuldade do setor
para completar as vagas para motoristas, o Serviço Social do Transporte (Sest)
e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat), entidades ligadas à
CNT, realizam cursos profissionalizantes gratuitos para capacitar futuros
profissionais por meio do Programa na Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e
Emprego (Pronatec). “Profissionais dos mais variados perfis nos procuram para
fazer os cursos, que duram cerca de dois meses”, diz a coordenadora de
Desenvolvimento Profissional do Senat Curitiba, Miscila Zeferino Kruger.
O instrutor do curso, Claudio
Roni Thomas, afirma que o grande desafio dos alunos é saber usar de maneira
correta toda a tecnologia embarcada nos novos caminhões.
Técnicas
Ao longo do curso, o aluno
aprende técnicas de direção defensiva, economia de combustível, línguas e
noções de trato com clientes. “É aprendizado muito mais comportamental do que
técnico. Quem tem carteira específica, já sabe dirigir caminhão. O que
ensinamos aqui é como dirigir da maneira correta e de acordo com o que o
mercado quer”, aponta Thomas.
Um roubo a cada dois dias
Um dos principais motivos que
contribuem para a baixa procura pela profissão de motorista de caminhão é o
crescimento no número de roubo de cargas nas estradas brasileiras. Último
levantamento da Associação Nacional dos Transportadores de Carga &
Logística (NTC&Logística), em 2011, registrou 13 mil casos, com perdas de
R$ 920 milhões. No Paraná, de acordo com estimativa do Sindicato das Empresas
de Transporte de Cargas no Estado do Paraná (Setcepar), acontece um roubo de
carga a cada dois dias.
Na região de Curitiba, a
ocorrência desse tipo de crime também é grande. Segundo a Delegacia de
Estelionato e Desvio de Cargas (Dedc), acontecem cerca de 20 casos por mês. “Os
municípios de São José dos Pinhais e Campina Grande do Sul são os locais com o
maior número de roubos de carga aqui na região”, explica o delegado Mateus
Layola, titular da especializada.
Bandidagem
Ainda de acordo com Layola, a
ação dos bandidos costuma acontecer da mesma maneira. “Geralmente emparelham
outro veículo com o caminhão, mandam o motorista parar a carreta, rendem o
caminhoneiro, amarrando-o e levando para o cativeiro e depois levam a carga. No
geral, não há violência contra os motoristas”, afirma o delegado.
Fonte: Paraná Online
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