terça-feira, 3 de setembro de 2013

Seminário: Lei 12.619 está em pleno vigor




Bombardeada por todos os lados e correndo sérios riscos de ficar totalmente desfigurada, a "Lei do descanso" tem que ser obedecida sob pena de pesadas multas.
Durante a 24ª Feira do Caminhoneiro, a revista Caminhoneiro realizou um painel com o patrocínio da Autotrac e da Scania, sobre "Qualificação profissional e formação da mão-de-obra dos motoristas".
Ana Carolina Ferreira Jarrouge, gerente de Recursos Humanos da Transportadora Ajofer, lembrou que em 2010 havia uma falta de cerca de 120 mil motoristas e mudanças do perfil dos caminhoneiros e das próprias empresas. "Tínhamos muitos pedidos de demissões porque a procura por profissionais era grande e a rotatividade também", explica Ana Jarrouge. "Iniciamos um programa de capacitação de motorista. Primeiro, para os melhores. Capacitamos esses profissionais na Fundação Adolpho Bósio de Educação no Transporte (Fabet). Como motoristas e como instrutores, eles ajudaram no processo de capacitação e formação de outros profissionais. Aumentamos a carga horária no processo de integração do motorista, falamos sobre segurança, saúde, colocamos pequenos recados junto com doces para que eles se lembrassem de cuidar da saúde".
E quem entra na Ajofer, conta ainda com uma escola própria, para aprender a cultura da empresa que oferece ainda um plano de carreira que começa com ajudante, depois conferente, manobrista, motorista de truck e, finalmente, motorista de carreta.
E como a filosofia tem que estar em todos os níveis, a Ajofer também treina suas lideranças para saber lidar com esse novo perfil do motorista e essa falta de mão-de-obra. "É preciso ter empatia, paciência, respeito e estar preparado para a mudança de cultura. Motorista bom não é aquele que dirige 24 horas sem parar. É o motorista que vai desempenhar sua função, com economia de combustível e respeito", adverte a RH da Ajofer. "Temos uma preocupação com a saúde, combate ao uso de drogas e álcool, utilização de bafômetro, acompanhamento de todo programa de saúde, análise psicológica quando há acidentes".
E os resultados, ainda que tímidos, são comemoráveis: redução de 4% do número de acidentes, 30% redução de multa, economia de combustível de 40 a 65 litros por viagem na rota São Paulo/Rio de Janeiro.
Lei do descanso
O presidente da NTC&Logística, Flávio Benatti afirmou que os transportadores precisam sair da "zona de conforto" querendo uma lei que se enquadre às necessidades de cada um.
Quanto aos profissionais, Benatti afirma que não haverá motoristas, se as empresas não investirem em sua formação. "Não é uma questão do custo do motorista, existem setores da economia que não querem pagar a conta da mudança. É esse pessoal do agronegócio que utiliza o caminhão como silo ambulante e dificulta o aparecimento de novos motoristas. Os interessados olham a infraestrutura deficiente e alguns setores que escravizam os motoristas, como vão entrar nesse ramo?", pergunta Benatti.
Outro problema apontado pelo presidente da NTC&Logística é o fato de o jovem só obter a carteira de habilitação E com 20 anos. Com essa idade ele já definiu sua profissão, seu futuro. Para Benatti, o interessante seria colocá-lo na Fabet ou em outras instituições, para que ele fosse aprendendo mais, desenvolvendo suas habilidades e ao completar 20 anos, já ter um emprego.
Manoel Sousa Lima Júnior, presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (Setcesp), lembra outro motivo para a redução de motoristas. "Antigamente, todo motorista tinha orgulho de seu filho seguir sua profissão e vice-versa. O filho tinha orgulho de seguir a profissão do pai e isso não acontece mais porque ele não tem incentivo para isso", explica Lima Júnior. "O sindicato se preocupa com a formação de profissionais, tanto assim que fechou um contrato com o piloto Luciano Burti para trazer do Canadá, um simulador de caminhão que servirá para treinamento".
Benatti explicou que o relatório que irá passar pela aprovação em Brasília, DF, quer mudar a lei e está descaracterizando-a. Quiseram mexer em lei da balança, quando se fala em tolerância de peso. "Isso foi pauta de embarcador e não transportador, ajudada por pessoas que dizem ser representantes dos caminhoneiros. Isso só prejudicou o setor. Quem faz isso, está fazendo um mal tremendo para o setor. O embarcador vai ter que sentar a mesa para negociar", avisa Benatti.
O presidente da NTC&Logística afirma que tudo isso tem que ser discutido com responsabilidade, de maneira muito clara, tem que ser bom para todo mundo. E ele acusa. "A lei não pegou porque todo mundo trabalhou para a lei não pegar. Depois de um trabalho de quatro anos, com 40 audiências em todo o Brasil, consegue-se aprovar a lei e aparecem uns gritando contra porque descobriram que terão que pagar a conta".
Benatti dá um triste exemplo do nosso país que é o maior produtor de grãos do mundo e ter silagem apenas para um terço da colheita, enquanto os Estados Unidos possuem silagem para quatro safras.
"Nós temos seis grupos no mundo que controlam o agronegócio e fazem disso aqui o que querem. Quem paga a conta é o empresários, é o caminhoneiro. Essa lei vem colocar ordem na casa. O nosso setor reclamou a vida inteira por marcos regulatórios, e a Lei 12.619 é o melhor marco, porque regulamenta o indivíduo mais importante do setor, que é o motorista".
Ele diz que é preciso parar de fazer piquetes no meio da estrada que não levam a nada e atrapalham quem quer trabalhar. "Queremos ter um setor de respeito, queremos ter a dignidade de dizer que somos transportadores, que o caminhoneiro tenha orgulho de dizer que é caminhoneiro profissional e temos que contribuir com isso. Se não vamos para outro ramo. E até que isso ocorra e os projetos que estão rolando em Brasília não sejam votados, o que vale é a Lei 12.619".

Fonte: Revista Caminhoneiro

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