A
tecnologia é hoje a melhor companhia de viagem para o caminhoneiro sonolento ou
distraído. O dispositivo que avisa quando o veículo sai da faixa será exigência
legal nos caminhões vendidos na Europa a partir de 2015. Sensores que acionam o
freio para evitar colisões com o veículo da frente também já estão disponíveis.
Novidades como essas perdem a função, no entanto, diante do aumento de coisas
que desviam a atenção do motorista.
Distração é a maior causa dos acidentes e a
indústria percebe hoje que a parafernália tecnológica que instalou nos caminhões
para torná-los mais seguros é frequentemente derrotada por smartphones,
navegadores e outros inimigos da atenção ao volante.
“Chegou a hora de focarmos mais
no motorista”, diz Carl Johan Almqvist, diretor mundial de segurança da
Volvo Trucks. Faz quatro anos que Almqvist se dedica às pesquisas que a
montadora sueca mantém para mapear as causas dos acidentes. O papel do
motorista será um dos temas da palestra que o especialista fará hoje em São
Paulo. “Em todo o mundo o motorista é visto como um componente de custo. Na
Europa, já se contratam caminhoneiros das Filipinas por ser mão de obra mais
barata. Mas é preciso elevar o padrão do condutor; ele é a peça-chave”.
A legislação europeia exige que a
partir de 2015 os caminhões saiam de fábrica com um dispositivo para monitorar
a faixa de rodagem. Por meio de câmeras e sensores, o equipamento emite sinais
sonoros quando ocaminhão cruza
a faixa sem sinalizar. A indústria também desenvolveu um sensor de ponto cego,
que informa se há um objeto ou veículo à direita do caminhão em
troca de faixa.
Também já pode ser encontrado no
mercado europeu o chamado “Driver alert system”, que emite sons e exibe
mensagem no painel quando o motorista dirige de forma errada. O sistema, no
caso, entende que ele está cansado.
O erro humano apareceu como a
causa em 90% dos 35,5 mil acidentes de trânsito com mortes, registrados em 2009
nos 27 países que compunham a União Europeia na época. Mas o Brasil registra
mais mortes que todo o bloco europeu. O dado mais recente do Ministério da
Saúde indicou 43,25 mil mortes em acidentes de trânsito no país em 2011. Isso
dá a média de 118,5 mil mortes por dia ou 22,3 para cada 100 mil habitantes.
A média de mortes para cada grupo
de 100 mil habitantes está em três na Suécia, cinco na Alemanha e Japão e 11
nos Estados Unidos, segundo relatório do IIHS, um instituto de pesquisa de segurança nas
estradas dos EUA. No mapa do IIHS, Malásia e África do Sul mostram quadro pior
que o do Brasil, com médias de 25 e 32, respectivamente.
A mais recente inovação na Europa
é o desenvolvimento de um equipamento que faz o caminhão parar
a poucos metros do veículo à frente para evitar a colisão, caso a situação de
perigo não seja notada pelo motorista.
A ideia não é brecar o caminhão
repentinamente. “Isso pode provocar outra colisão se o veículo que vem atrás
não tiver o sistema”, diz Almqvist. O equipamento age de forma gradual, suave.
Primeiro emite uma luz, avisando que um objeto se aproxima. A luz fica
intermitente e é seguida por sinal sonoro se a pessoa ao volante continuar
alheia. Na sequência, o freio é acionado aos poucos. Se nem assim o condutor
tomar uma atitude, o equipamento faz o que o motorista deveria ter feito. Um
filme com um ensaio desses colocado pela Volvo no YouTube atingiu três milhões
de acessos em apenas uma semana.
Mas se em alguns casos a
sonolência do motorista é efeito de longas jornadas, nos países desenvolvidos a
vontade de relaxar aparece com o desenvolvimento de veículos mais modernos e
confortáveis. “Quanto mais conforto há num veículo, mais o condutor precisa de
equipamento de apoio para mantê-lo acordado”, diz Almqvist.
A boa notícia é que o
desenvolvimento tecnológico em breve permitirá até um cochilo à frente do
volante. Equipes de engenharia da Europa trabalham no aprimoramento de um
sistema de comboio. O veículo da frente, de preferência um caminhão, puxa uma
fileira de outros, incluindo automóveis. A comunicação entre veículos é feita
por sensores.
Exclusivo para uso em grandes
rodovias, o sistema pode ser acionado por uma família que deseja chegar a
determinado destino dentro do seu carro sem fazer qualquer esforço. Basta
agendar uma vaga no comboio que segue na mesma direção. É possível sair da fila
a qualquer momento, para pegar outra direção e voltar num outro comboio.
Segundo Almqvist, o sistema está pronto. Mas depende de mudanças na legislação
internacional. O texto em vigor, escrito em Genebra no século XIX, diz que cabe
a cada condutor cuidar “de sua carruagem e também dos cavalos”. Chegou a hora de
mudar o texto, urgentemente.
Fonte: Valor Econômico S.A.
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