segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Motorista distraído desafia inovação


A tecnologia é hoje a melhor companhia de viagem para o caminhoneiro sonolento ou distraído. O dispositivo que avisa quando o veículo sai da faixa será exigência legal nos caminhões vendidos na Europa a partir de 2015. Sensores que acionam o freio para evitar colisões com o veículo da frente também já estão disponíveis. Novidades como essas perdem a função, no entanto, diante do aumento de coisas que desviam a atenção do motorista. 

Distração é a maior causa dos acidentes e a indústria percebe hoje que a parafernália tecnológica que instalou nos caminhões para torná-los mais seguros é frequentemente derrotada por smartphones, navegadores e outros inimigos da atenção ao volante.
“Chegou a hora de focarmos mais no motorista”, diz Carl Johan Almqvist, diretor mundial de segurança da Volvo Trucks. Faz quatro anos que Almqvist se dedica às pesquisas que a montadora sueca mantém para mapear as causas dos acidentes. O papel do motorista será um dos temas da palestra que o especialista fará hoje em São Paulo. “Em todo o mundo o motorista é visto como um componente de custo. Na Europa, já se contratam caminhoneiros das Filipinas por ser mão de obra mais barata. Mas é preciso elevar o padrão do condutor; ele é a peça-chave”.
A legislação europeia exige que a partir de 2015 os caminhões saiam de fábrica com um dispositivo para monitorar a faixa de rodagem. Por meio de câmeras e sensores, o equipamento emite sinais sonoros quando ocaminhão cruza a faixa sem sinalizar. A indústria também desenvolveu um sensor de ponto cego, que informa se há um objeto ou veículo à direita do caminhão em troca de faixa.
Também já pode ser encontrado no mercado europeu o chamado “Driver alert system”, que emite sons e exibe mensagem no painel quando o motorista dirige de forma errada. O sistema, no caso, entende que ele está cansado.
O erro humano apareceu como a causa em 90% dos 35,5 mil acidentes de trânsito com mortes, registrados em 2009 nos 27 países que compunham a União Europeia na época. Mas o Brasil registra mais mortes que todo o bloco europeu. O dado mais recente do Ministério da Saúde indicou 43,25 mil mortes em acidentes de trânsito no país em 2011. Isso dá a média de 118,5 mil mortes por dia ou 22,3 para cada 100 mil habitantes.
A média de mortes para cada grupo de 100 mil habitantes está em três na Suécia, cinco na Alemanha e Japão e 11 nos Estados Unidos, segundo relatório do IIHS, um instituto de pesquisa de segurança nas estradas dos EUA. No mapa do IIHS, Malásia e África do Sul mostram quadro pior que o do Brasil, com médias de 25 e 32, respectivamente.
A mais recente inovação na Europa é o desenvolvimento de um equipamento que faz o caminhão parar a poucos metros do veículo à frente para evitar a colisão, caso a situação de perigo não seja notada pelo motorista.
A ideia não é brecar o caminhão repentinamente. “Isso pode provocar outra colisão se o veículo que vem atrás não tiver o sistema”, diz Almqvist. O equipamento age de forma gradual, suave. Primeiro emite uma luz, avisando que um objeto se aproxima. A luz fica intermitente e é seguida por sinal sonoro se a pessoa ao volante continuar alheia. Na sequência, o freio é acionado aos poucos. Se nem assim o condutor tomar uma atitude, o equipamento faz o que o motorista deveria ter feito. Um filme com um ensaio desses colocado pela Volvo no YouTube atingiu três milhões de acessos em apenas uma semana.
Mas se em alguns casos a sonolência do motorista é efeito de longas jornadas, nos países desenvolvidos a vontade de relaxar aparece com o desenvolvimento de veículos mais modernos e confortáveis. “Quanto mais conforto há num veículo, mais o condutor precisa de equipamento de apoio para mantê-lo acordado”, diz Almqvist.
A boa notícia é que o desenvolvimento tecnológico em breve permitirá até um cochilo à frente do volante. Equipes de engenharia da Europa trabalham no aprimoramento de um sistema de comboio. O veículo da frente, de preferência um caminhão, puxa uma fileira de outros, incluindo automóveis. A comunicação entre veículos é feita por sensores.
Exclusivo para uso em grandes rodovias, o sistema pode ser acionado por uma família que deseja chegar a determinado destino dentro do seu carro sem fazer qualquer esforço. Basta agendar uma vaga no comboio que segue na mesma direção. É possível sair da fila a qualquer momento, para pegar outra direção e voltar num outro comboio. Segundo Almqvist, o sistema está pronto. Mas depende de mudanças na legislação internacional. O texto em vigor, escrito em Genebra no século XIX, diz que cabe a cada condutor cuidar “de sua carruagem e também dos cavalos”. Chegou a hora de mudar o texto, urgentemente.


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