quinta-feira, 5 de setembro de 2013

46% dos PMs do Ceará usaram licença médica


Policiais sofrem com problemas físicos e psicológicos; de janeiro a julho, foram 3.649 licenças concedidas

Eles estão na linha de frente do combate à violência. São treinados para enfrentar todo tipo de situação, por mais adversa que pareça ser. É este o papel dos policiais militares: garantir a segurança das pessoas. No Ceará, o efetivo é formado por 15 mil homens. Com todas as peculiaridades inerentes ao ofício, no ano passado, 46% do efetivo (6.357) entraram de Licença para Tratamento de Saúde (LTS). 

De 2011 (5.360) para 2012 (6.937), foi registrado aumento de 29,5% no número de licenças médicas concedidas a policiais militares em todo o Estado. De janeiro a julho deste ano, foram 3.649, o que representa crescimento de 3,6% em relação ao mesmo período do ano passado (3.520). Os dados são da Associação dos Praças da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros do Ceará (Aspramece).

Pedro Queiroz, presidente da entidade, diz que, no Ceará, a situação dos policiais militares se tornou problema de saúde pública. Ele culpa o que considerou como “exaustiva jornada de trabalho” para a qual os profissionais da segurança pública são submetidos.

“Não é de hoje que a gente solicita ao governo que reduza a jornada de trabalho para 40h semanais, conforme está previsto nos parâmetros constitucionais”, afirma, ao complementar que há policiais, principalmente no Interior, que trabalham mais de 100 horas por semana. Por isso, muitos estão ficando doentes”, alerta.

As doenças psicológicas estão entre as principais causas das licenças. Segundo Queiroz, os policiais têm o estado psicológico abalado por conta de “pressões dos superiores”. Em seguida estão problemas ortopédicos, pelo fato de os policiais passarem muitas horas em pé. Os problemas vasculares e cardíacos também são recorrentes.

Um policial, que preferiu não se identificar, afirma conhecer bem o problema. Segundo ele, o fato de fazer questionamentos no quartel pode trazer problemas com os superiores. O PM conta que até foi transferido para o Interior do Estado. Foi quando conseguiu uma liminar na Justiça determinando que permanecesse exercendo atividades na Capital, onde reside com duas filhas, uma delas deficiência auditiva.

O porta-voz da Polícia Militar, tenente-coronel Fernando Albano, esclarece que existem casos em que o policial realmente está com problemas de saúde. Nestes, eles são encaminhados ao Centro Bio-Psico Social para que tenham o devido acompanhamento. Existem ainda convênios com Centros de Atenção Psicossocial (Caps) do Interior. Porem, diz que foi detectado que muitas licenças estão sendo fornecidas de maneira “graciosa”.

Desfalque

O tenente-coronel frisa que cada policial que se encontra com LTS representa um posto a menos em defesa da sociedade e sacrifício para quem está em plenas condições, pois terá de cobrir o posto daquele que supostamente está doente. O comando está acompanhando todas as licenças e aquelas adquiridas de maneira “graciosa” serão devidamente investigadas, através de procedimento administrativo. Ele informa que foi enviado ofício ao Conselho Regional de Medicina para apurar os casos de licenças duvidosas.

Acrescenta ainda que desconhece qualquer conduta de assédio moral, como foi relatado. “O que existe é uma hierarquia e ordenamento que todos devem cumprir”, salienta. 


Fonte: Diario do Nordeste

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