É
fato comum motoristas que se envolveram em acidentes graves não se lembrarem de
como tudo aquilo aconteceu. E, ao retomarem a consciência, se mostram surpresos
com a dimensão e consequências da ocorrência. Especialistas dizem que diversos
fatores podem ser responsáveis por acontecimentos deste tipo e destacam excesso
de consumo de bebida e drogas, sono ou até mesmo doenças preexistentes, tais
como pressão alta, diabetes e obesidade, males que podem levar o condutor a
sofrer um "mau súbito", manifestação do próprio organismo que ocorre
de maneira inesperada e repentina. É como se o motorista "apagasse"
por alguns instantes, deixando o veículo fora de controle.
Dentro
desse conceito, conforme explica o cardiologista Igino Barp, se enquadram desde
desmaios (motivados por exposição a calor excessivo, desidratação, falta de
alimentação adequada, quedas de pressão arterial), até situações extremamente
mais graves e potencialmente fatais (acidentes vasculares cerebrais, infarto
agudo do miocárdio arritmias cardíacas). "Infelizmente, muitas vezes a
manifestação inicial se dá de forma abrupta, o que para quem se encontra no
volante de um veículo já prenuncia um desastre iminente",
explica Barp.
Fazer exames preventivos contribui para melhorar
a saúde do motorista e garantir a segurança ao volante
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De acordo com estudos concluídos recentemente pelo
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, estatísticas internacionais
apontam correlação de alterações da saúde em condutores (fatores de risco) com
aproximadamente 23% dos acidentes. Já dados do Incor - Instituto Nacional do
Coração, mostram que o mal atinge cerca de 21.000 pessoas por ano, só na região
metropolitana de São Paulo. Este número é duas vezes superior às mortes por
causas externas (acidentes, suicídios etc.) e superior ao total de óbitos por
tumores. No caso específico dos motoristas de caminhão, é preciso atenção
especial, pois além de estarem ao volante de um veículo pesado são
profissionais expostos a situações de risco. Além disso, alegam não terem tempo
para se dedicarem à saúde, tornando comum a prática da automedicação.
Desde 2002, o Departamento de Polícia Rodoviária
Federal, em parceria com o Sest Senat - firmada a partir de 2006 -, tem
realizado o Comando de Saúde nas Rodovias, cujo público alvo são os motoristas
profissionais. Otrabalho tem
caráter educativo com recomendações simples. Durante as ações são avaliadas
doenças preexistentes, utilização de medicamentos impróprios, envolvimento em
acidentes, tabagismo, pressão arterial, peso, altura, glicemia, colesterol,
triglicérides, gordura corporal, sonolência e circunferência abdominal, entre
outros.
Em 2009, o Comando avaliou 8.200 motoristas
profissionais (caminhões e ônibus) em todo o território nacional e do total
avaliado, 23,59% apresentaram carga horária excessiva; 15,13% com sonolência e
6,09% o uso de medicamentos impróprios. Os números foram obtidos através do
preenchimento de ficha de saúde, baseados, portanto, no relato direto do
próprio motorista.
É importante o motorista programar parads a cada
3 horas para se manter descansado durante a viagem
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Como meio de acrescentar dados recentes à operação,
conforme explica Bianca Novaes, da divisão de saúde e assistência social, o
Departamento de Polícia Rodoviária Federal, em parceria com o Departamento de
Medicina Legal, Ética Médica e Medicina Social e do Trabalho, Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo, pesquisou o uso de substâncias
psicoativas para avaliar a situação preocupante, na qual o motorista
profissional tem colocado em risco quem trafega pelas rodovias.
Dados divulgados pela concessionária Ecovias,
responsável pelo sistema Anchieta-Imigrantes,
mostram que a média dos 600 motoristas de caminhão entrevistados em maio e
outubro de 2011, mais de 51% dormem menos de 12 horas, 44% fazem menos de três
refeições diárias e 30% repousam menos de 6 horas por dia. Especificamente em
maio de 2011, dos 300 carreteiros entrevistados 58% afirmaram ter jornadas de
trabalho que superam 12 horas diárias. Dentre estes, um em cada 10 admitiram
ter usado drogas ilícitas. Quanto às horas de sono e de alimentação, 31% dos
carreteiros dormem menos de 6 horas por dia, enquanto apenas 33% realizam três
refeições diárias. "Realizamos essa pesquisa (Biovia) duas vezes por ano e
constatamos esses dados preocupantes sobre a rotina dos motorista há alguns
anos", informou José Carlos Cassaniga, diretor superintendente da Ecovias.
O cardiologista Igino Barp destaca que é importante
o carreteiro estar sempre atento ao surgimento de sensação crescente e
incontrolável de fadiga e cansaço, tonturas, vertigens, dor de cabeça de início
súbito e de intensidade crescente. Outros sinais de alerta são dor no peito
associada à náusea ou vômitos, suor frio abundante , palpitações, falta de ar,
formigamento nas mãos e/ou pés e dificuldade para realizar movimentos. "As
principais formas de prevenção contra o mau súbito são cuidar da saúde, não
cometer excessos na alimentação, não utilizar drogas e álcool e respeitar os
limites não só do caminhão e da estrada, mas também e, especialmente, do
próprio corpo", aconselha o médico.
Fonte: Revista o Carreteiro
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