Os esteriótipos podem
enganar. À primeira vista as pessoas podem não revelar os seus segredos mais
profundos. Com isto, pré-julgamentos afloram como borbotões no misancene
social. Com a loira Tânia Graziella Rampim, 32, não foi diferente. Herdeira de
uma família de motoristas de caminhão, a menina cresceu num universo bastante
diferente das cocotes que buscam uma profissão em que o máximo que se almeja é
o ápice na entediante vida de Belle Epoque atual.
“Sempre
quis ser caminhoneira”, relata a moça bonita que hoje é conhecida em Itapira
como a motorista da Sanepav. “Trabalhar na coleta do lixo me deixou humilde. Me
fez descer do pedestal e abaixar o nariz empinado”. Mas até chegar a neste ponto
e também tirar a CNH para dirigir carretas o caminho foi longo.
Desde
pequena, Tânia dava sinais de que queria seguir a profissão do bisavô, do avô,
do pai e do irmão mais velho. Não deu outra. “Meu pai me levava na boléia e
aquele universo era maravilhoso, fascinante. Aos 16 anos, tive a oportunidade
de dirigir um pesado. Foi incrível”, conta a motorista, que há mais de quatro
anos desafia os preconceitos. “Até na minha casa eu sofri uma contrariedade,
pois meu pai dizia para eu estudar e não ser motorista”.
Vontade
O
desejo ficou incubado por anos, guardado nas entranhas da vontade. Mocinha, com
19 anos, decidiu ir para a faculdade cursar fisioterapia, em Pinhal. Mas logo,
ao final de um ano, Tânia chegou à conclusão de que aquela não era sua praia. “Estava
angustiada, paralisada. Dei um basta em tudo”. Acionou o GPS da sua intuição e
engatou a primeira para descer a estrada de Santos da sua mente. Nunca mais
olhou para trás. “Tinha que viver meu sonho e meus pais teriam que entender a
minha escolha”.
Daí
em diante, foi só na “banguela”. “Quando se segue um sonho, as portas se abrem,
não há rodovias interrompidas”, afirmou a mulher numa metáfora
existencial. Por esta época, tirou CNH na categoria D e partiu para novos
desafios. O maior ainda estava por vir: superar a desconfiança. “Poucos
acreditavam que uma mulher pudesse dar conta de um danadão de algumas
toneladas”. E deu.
Oportunidade
O
primeiro emprego foi em uma empresa de saneamento. Dispensada, não perdeu tempo
e foi contratada para dirigir o busão de turmeiros de cana. “Levava os peões
para o meio do canavial”. Ficou nesta lida por dois anos, até voltar para a
Sanepav, para quem dirige um dos veículos da coleta do lixo doméstico. “É uma
conquista diária, meus colegas me ensinam muito e me tornei um ser humano
melhor do que eu era. Estou aprendendo a cada dia”. O próximo passo já foi
dado. Acaba de tirar a CNH na categoria E, em dezembro.
Isto
significa que Tânia se tornou a primeira itapirense a dirigir uma carreta. “As
diferenças são enormes em relação ao veículo que dirijo no momento. A primeira
e mais nítida é o tamanho. A carreta é bem maior, mais possante. Isto me
atrai”. Outros sonhos já estão na carroceria: estar na Formula Truck é um
deles. “Quem sabe não tenho uma oportunidade na categoria”, se pergunta olhando
ao horizonte.
As
dificuldades do início de carreira para conseguir um emprego já não mais
existem. Atualmente, as empresas transportadoras é quem lhe vem ao encalço.
Quatro querem seus serviços, mas problemas em família a impedem de desbravar o
mundo num pesado a La Carga Pesada. “Meu desejo é fazer a viagem inaugural para
Salvador, na Bahia”, disse. “Mas meu pai e minha avó agora não podem ficar
sozinhos. Eu os amo e terei que dar um tempo para realizar mais este sonho”,
comentou a motorista resiliente.
Para
ela, a carreta é sinônimo de poder. “Levar um daqueles nas costas não é fácil.
Exige responsabilidade”. Sobre o quesito segurança nas rodovias, Tânia tem os
pés nos chão. Diz que tem receio como qualquer outra pessoa. “Mas a liberdade
que sinto, o vento na boléia e a paisagem nas estradas falam mais alto. É a
minha vida. É tudo que desejo”.
Fonte: Gazeta Itapirense
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