A Petrobras anunciou alta do preço da
gasolina de 6,6% na refinaria e do diesel em 5,4% a partir de quarta-feira
(30), em um movimento amplamente esperado pelo mercado diante da defasagem dos
valores dos combustíveis no país em relação às cotações internacionais.
O reajuste
provavelmente não eliminará a defasagem, mas dará fôlego para a Petrobras
desenvolver seu bilionário plano de investimentos.
“Esse reajuste
foi definido levando em consideração a política de preços da companhia, que
busca alinhar o preço dos derivados aos valores praticados no mercado
internacional em uma perspectiva de médio e longo prazo”, afirmou a estatal em
comunicado nesta terça-feira (29).
A defasagem
dos valores dos combustíveis foi um dos fatores que prejudicou os resultados da
Petrobras em 2012 – entre abril e junho passado, a empresa teve o primeiro
prejuízo trimestral em mais de 13 anos.
Ao longo de
boa parte de 2012, a defasagem da gasolina da Petrobras vendida nas refinarias
na comparação com o mercado norte-americano, uma referência internacional,
esteve acima de 20%, com o governo – controlador da empresa – temendo o impacto
de um aumento do combustível na inflação.
Em aumentos
dos combustíveis em 2011 e 2012, o governo compensou a alta com redução de
taxas, o que não será mais possível, uma vez que a Contribuição de Intervenção
sobre o Domínio Econômico (Cide) está zerada para o diesel e a gasolina.
Os reajustes
deverão ser repassados aos consumidores e, ainda que não integralmente, deverão
ter impacto na inflação.
“O impacto na
bomba é menor, é amortecido pela mistura de biocombustíveis, no caso da
gasolina, o álcool, e no caso do diesel, o biodiesel”, afirmou à Reuters o
presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e
Lubrificantes (Sindicom), Alisio Vaz.
A gasolina
recebe atualmente uma mistura de 20% de etanol, enquanto a do biodiesel no
diesel é de 5%.
Vaz disse
ainda que o impacto do aumento pode ser amenizado por eventuais mudanças nas
margens de distribuição e comercialização de cada distribuidora.
Segundo ele,
cada distribuidora pode mexer em sua margem para repassar esse valor em um
percentual maior ou menor, e por isso é difícil calcular qual será o nível de
repasse de preço.
“Um aumento de
reajuste na refinaria normalmente não chega nos mesmos percentuais aos postos.
Normalmente, são ligeiramente inferiores”, afirmou ele.
O Banco
Central (BC) estimou na semana passada que os preços da gasolina subiriam cerca
de 5% neste ano ao consumidor final. Ao mesmo tempo, o BC espera que os preços
das tarifas residenciais de energia elétrica caíam ao redor de 11%.
“O governo
promoveu uma transfusão de sangue da Eletrobras para a Petrobras, baixando os
preços da energia para promover um aumento da gasolina”, disse o diretor do
Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, que prevê impacto na
bomba de 4% para a gasolina, aproximadamente.
O BC tem
mostrado cada vez mais preocupação em 2013 com a inflação, que continua
pressionada e pode colocar em xeque a atual política monetária de manutenção,
por vários meses, da taxa básica de juro Selic na mínima histórica de 7,25% ao
ano.
Segundo Pires,
os percentuais de reajuste dos combustíveis e a data do anúncio vieram dentro
do esperado. Isso porque, segundo ele, o balanço da estatal do quarto trimestre
de 2012 não é muito promissor.
“É para dar
uma alegria ao mercado, antecipando um resultado do quarto trimestre fraco na
próxima segunda-feira.”
O aumento da
gasolina e do diesel deverá provocar uma geração de caixa mensal de R$ 600
milhões a R$ 650 milhões por mês para a Petrobras, segundo cálculo do CBIE.
Etanol
Se o etanol
amortece um pouco a alta no preço da gasolina, o aumento do combustível fóssil
também abre caminho para usinas de cana elevarem os valores do biocombustível.
O governo não
havia anunciado até a noite de terça-feira nenhuma medida compensatória ao
setor sucroalcooleiro na tentativa de evitar uma alta do preço do etanol na
esteira do aumento da gasolina.
O preço da
gasolina tem atuado, nos últimos anos, como um teto para o valor do etanol.
De acordo com
a estatal, os preços da gasolina e do diesel, sobre os quais incide o reajuste
anunciado, não incluem os tributos federais Cide e PIS/Cofins e o tributo
estadual ICMS.
Situação
em Curitiba
No dia 16 de
janeiro, o presidente do Sindicombustíveis, Roberto Fregonese, disse à Gazeta
do Povo que, se o preço subisse 7% na refinaria, subiria em torno de R$ 0,19
por litro na bomba em Curitiba.
Segundo a
pesquisa mais recente da ANP, na semana passada o preço médio da gasolina em
Curitiba era de R$ 2,82 por litro, variando de R$ 2,70 a R$ 3,28. Na verdade,
entre os 94 postos pesquisados pela agência, apenas um cobrava mais de R$ 2,90
– um estabelecimento com bandeira da Cosan que fica na Rua Professor João
Soares Barcelos, 3716, no bairro Boqueirão, e estava cobrando R$ 3,28.
Como o preço
médio cobrado pelas distribuidoras aos postos era de R$ 2,39, a chamada “margem
de revenda” dos estabelecimentos de Curitiba era de R$ 0,43 por litro. Esse
lucro refere-se apenas à diferença entre o que o posto paga à distribuidora e o
que cobra dos clientes – não inclui, portanto, receitas com outros produtos e
despesas com aluguel, funcionários e outros.
Fonte: Gazeta do Povo