Com a expectativa de recuperação da economia, juros comportados e inflação
ainda dentro meta, as principais categorias profissionais do país vislumbram um
cenário econômico melhor para as negociações salariais este ano. Após um 2012
em que 97% dos acordos tiveram ganho acima da inflação — de 2,3%, o maior ganho
real da série histórica do Departamento Intersindical e Estudos Sócio
Econômicos (Dieese) —, os trabalhadores querem mais.
— Se os
indicadores se confirmarem em 2013, os trabalhadores têm elementos para uma
negociação positiva na recomposição dos salários e na obtenção de ganhos reais
— diz José Silvestre Prado de Oliveira, coordenador de relações sindicais do
Dieese, lembrando que em 2012 nenhum trabalhador teve reajuste real abaixo da
inflação.
Apesar
de um cenário melhor, Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos
de São Paulo e diretor da Força Sindical — que representa 12 milhões de
trabalhadores — espera grandes embates nas campanhas salariais, especialmente
em questões polêmicas como redução de jornada de trabalho, fim do fator
previdenciário e melhorias nas condições de trabalho.
— São
pontos que unem todas as centrais sindicais. Acabado o carnaval, vamos botar o
bloco dos trabalhadores nas ruas — disse o sindicalista, que dirige a Confederação
dos Metalúrgicos do estado de São Paulo.
Torres
acrescentou que 2012 foi “dedicado” aos empresários, que receberam do governo
uma série de benefícios e incentivos fiscais para manter a produção e os
empregos:
— Agora,
chegou nossa vez. Em 2013, vamos exigir uma contrapartida dessas isenções para
a classe trabalhadora.
Acordos mais longos
Além dos
benefícios concedidos aos empresários, Vagner Freitas, presidente da CUT,
lembrou que o fraco desempenho do PIB em 2012 (em torno de 1%) não impediu que
alguns setores tivessem crescimento.
— O
fortalecimento do mercado interno tem que ser acoplado à melhoria dos salários
dos empregados e à garantia no emprego. São eles, os trabalhadores, que vão
construir esse mercado interno forte de que o país precisa para continuar
crescendo — afirmou Freitas.
No ABC
paulista, com o fim do acordo com algumas montadoras que vigorou por 2011 e
2012, os salários voltarão a ser negociados. Com pouco mais de 104 mil
trabalhadores e data-base em setembro, a ideia, segundo o presidente do
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, é dar continuidade a acordos
salariais mais longos, como nos dois últimos anos, período em que os
metalúrgicos não deixaram de reivindicar melhores condições de trabalho,
qualificação profissional e participação nos lucros e resultados (PLR) com
prazo e valores mais elásticos. Marques citou como exemplo a negociação com a
Volkswagen, válida até 2017, e que prevê reajuste da inflação anual, aumento
real de 2,5% e PLR de R$ 12,5 mil.
—
Queremos acordos mais longos. Isso dá segurança para as duas partes — disse
Marques. — E 2013 será mais favorável na qualidade do crescimento, e o
trabalhador terá melhores condições para negociar.
Segundo
Marques, é preciso ficar atento para dificuldades que possam surgir, como
aprofundamento da crise na Europa e redução no crescimento chinês, que, se
ocorrerem, afetarão negativamente os segmentos industriais. No caso de
repetição do desempenho econômico de 2012, o presidente da CUT prevê
negociações mais longas, enfrentamentos e greves.
Na
avaliação de empresários, a luta por aumentos reais maiores este ano chega em
um momento em que as empresas não deram sinais de retomada mais forte na
produção e vendas, apesar dos incentivos do governo. Mesmo com as dificuldades
de 2012, alegam que 98% dos trabalhadores da indústria e do comércio tiveram
reajustes acima da inflação. Na indústria, o ganho real entre 2% e 3% atingiu
37% dos reajustes do setor. No comércio, 37% tiveram aumento na mesma faixa.
Fonte: fetraconspar.org.br
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