segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Greve de caminhoneiros convocada para dia 10/12 é movimento de empresários, alertam Unicam e Sindicam-SP


Um movimento desconhecido chamado CargaPesada está convocando uma paralisação de caminhoneiros para dia 10 de dezembro em todo o Brasil. Os dois maiores e mais representativos sindicatos da categoria Unicam (União Nacional dos Caminhoneiros) e Sindicam-SP (Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de São Paulo) alertam que a “convocação” está sendo feita por entidades desconhecidas e que os trabalhadores não participam do chamado “movimento”.
Para José Araújo “China” da Silva, presidente da Unicam, a paralisação tem como objetivo confundir os trabalhadores e o governo, pois apresenta como pleitos revogação de leis que beneficiam os trabalhadores e caminhoneiros autonomos. “É uma clara tentativa de confundir, de retirar direitos adquiridos com muito esforço por nós”.
China explica que a Lei 12.619 que trata sobre o tempo de descanso dos motoristas está sendo debatida no Congresso Nacional e que o Ministério dos Transportes está discutindo a legislação com os trabalhadores e com as entidades representativas dos transportadores autônomos e de empresas, de modo a encontrar um formato que atenda as necessidades da categoria e garanta a segurança de quem trafega pelas estradas.
Um outro pleito do movimento é a revogação da lei 12.249/2010 e o fim da resolução 3.658, que prevê o pagamento eletrônico de frete. Esta lei aprovada há dois anos proibiu o uso da carta-frete, uma forma de pagamento ilegal que leva o caminhoneiro a perder até 50% de seu frete. “Qualquer movimento genuíno de trabalhadores não pediria a revogação desta lei. Quem é caminhoneiro sabe que a carta-frete significa pagar ágio em postos de gasolina e impede o carreteiro de trabalhar na legalidade”, explica Norioval de Almeida Silva, do Sindicam-SP.
Os caminhoneiros são o elo frágil da cadeia. Quando recebem o pagamento da carta-frete, que nada mais é que um pedaço de papel, assinado pela transportadora, recebem um “vale” para trocar por combustível, alimento, banho e local para dormir, nos locais previamente selecionados pela transportadora.
Os postos de gasolina e de paragem que “aceitam” a carta-frete obrigam o caminhoneiro a abastecer no mínimo com 40% do valor da carte frete, pagando diesel mais caro e de ágio na compra de produtos e serviços ou por dinheiro. Desta forma, o caminhoneiro sempre sofre perda do frete e pior, nunca sabe ao certo quanto vai receber ao fim da viagem.
Além de prejudicar o transportador autônomo, a carta-frete impõe perdas de cerca de R$ 12 bilhões em impostos aos cofres do governo, pois possibilita as empresas contratantes de abaterem as despesas que foram realizadas pelo caminhoneiro, gerando caixa 2.
Outro pedido do dito movimento, é a cobrança de pedágio apenas do caminhão trator, pleito que também é visto com muita suspeição pelos sindicatos. “Quem paga o pedágio é a transportadora, isso está estabelecido por lei. O caminhoneiro só paga do próprio bolso quando não está transportandocarga”, completa Norioval.
Paralisação em julho foi questionada
No começo do mês de julho, uma paralisação de caminhoneiros foi alvo de investigação da Polícia Federal e da Justiça. Convocada pela MBUC (Movimento Brasil União Caminhoneiro), do empresário Nélio Botelho, aquela paralisação revelou-se um locaute (greve do empregador, vetada pela Constituição brasileira).
Na ocasião, a AGU (Advocacia Geral da União) questionou a paralisação promovida por Nelio, visto que o próprio tinha contratos da ordem de R$ 4 milhões para transporte de combustível com a Petrobrás. A Justiça determinou multa de R$ 6 milhões ao empresário e proibiu que promovesse novos bloqueios. A Polícia Federal foi chamada para investigar o caso.
Ministério do Transportes não reconhece MBUC
Em julho, o Ministério dos Transportes criou a Câmara de Estudos do Transporte Rodoviário de Cargas para discutir junto com grupos que representam trabalhadores, caminhoneiros e e empresários do setor questões importantes como o tempo de direção e de descanso dos motoristas (em discussão no Congresso Nacional), a manutenção e ampliação da infraestrutura rodoviária garantindo pontos de parada com estrutura de apoio e segurança, bem como a permanência do pagamento de frete por meio eletrônico, entre outros.
O MBUC e as entidades que convocam a paralisação chamada para dia 10/12 NÃO participam das reuniões e discussões da Câmara de Estudos do Ministério dos Transportes.
“É muito estranho essa convocação de paralisação quando as negociações com o Governo estão em pleno andamento. Nenhuma destas pessoas que assinam o documento participa de negociações e debates com a categoria. Nunca ouvimos falar deles e também não representam os trabalhadores”, conclui China, da Unicam.

Texto enviado pela Unicam

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