Resultado:
as precárias condições dos corredores de trânsito implicam no aumento do
chamado custo Brasil e põem em risco a vida de motoristas e passageiros. Em
média, ainda segundo a CNT, as deficiências na malha aumentam o gasto com
transporte em 23% no país. Na Região Sudeste, o percentual é de 19%. Ainda
segundo a entidade, o valor da modernização da infraestrutura rodoviária é
estimado em R$ 177 bilhões. Mas o aporte no setor é baixo. Para se ter ideia, o
mesmo estudo revelou que o Brasil investe nessa estrutura o equivalente a 0,36%
do seu Produto Interno Bruto (PIB). O ideal, defendem especialistas, é que seja
1,2%.
O
dia a dia de quem ganha a vida nas estradas e o reflexo financeiro devido às
más condições da malha são o tema da segunda reportagem da série O Brasil de
Gonzaga. A música A vida do viajante, um dos maiores sucessos do Rei do Baião,
se transformou num dos hinos dos caminhoneiros do Brasil. Milton, o carreteiro
de Montes Claros, segue à risca os versos “guardando as recordações das terras
onde passei”. Fã de Luiz Gonzaga, ele tem mais de 400 fotografias das cidades
por onde viajou.
Algumas
são cortadas pela BR-381, cujo trecho de 110 quilômetros entre BH e João
Monlevade é conhecido como Rodovia da Morte. A quantidade de cruzes às margens
do asfalto é um alerta de que a estrada, de traçado ultrapassado e perigoso,
reserva várias armadilhas. A BR-116, conhecida como Rio–Bahia e que corta Minas
Gerais, é um pesadelo para os profissionais do volante. Boa parte dela não é
duplicada. O maior problema, contudo, é a falta de divisão física entre as
pistas com direções opostas, o que aumenta o risco de batidas frontais.
A
negligência de condutores com a manutenção adequada de seus veículos também
causa acidentes. O próprio Gonzaga foi vítima, numa estrada próxima a Teófilo
Otoni, no Vale do Mucuri. A história é relatada pelo Rei do Baião no livro
Gonzaguinha e Gonzagão – Uma história brasileira, de Regina Echeverria: “Eu
tinha um carro grande,
um Chevrolet 3600, e quando chegamos antes de Lagoa Vermelha, eu tinha comprado
uma roda num ferro-velho. Troquei e pus no carro e esqueci de botar uma roda
nova. O carro virou no meio da estrada. Minha mãe perdeu três dedos e eu me
machuquei um pouco”.
Jeferson
França Alves, de 36 anos, conhece bem a realidade da BR-116, da BR-381 e de
outros caminhos: “Numa escala até 10, dou nota cinco para nossas estradas”. Há
seis anos na profissão, ele roda o país transportando ração e adubos. Já viu de
tudo nas longas viagens, como motoristas imprudentes e prostituição infantil.
Mas a vida no trecho é feita também de alegria. Ele fez muitos amigos. Alguns,
como costumava fazer Luiz Gonzaga, dormem em redes.
Os
panos coloridos são pendurados nas carrocerias dos veículos de carga – o Rei do
Baião justificava sua opção dizendo que o corpo, na manhã seguinte, doía menos
do que se repousasse numa cama. Redes penduradas em carretas formam uma cena
comum nos postos de combustível do Nordeste, principalmente no verão, quando o
calor no interior da boleia atrapalha o sono dos profissionais do volante. Por
aquelas bandas, outra situação preocupante é a quantidade de jumentos, jegues e
bodes soltos às margens das BRs. Na 122, entre Ouricuri (PE) e o Crato (CE),
não é difícil flagrar animais mortos depois de atropelados no asfalto.
“A
gente tem de redobrar a atenção”, sugere Wylliamys Eduardo de Almeida, de 29.
Há sete anos na profissão, o rapaz costuma passar 30 dias longe de casa. Além
dos animais, continua ele, a precariedade de algumas vias obriga as carretas a
transitar em velocidade baixa, facilitando a ações de marginais. “Certa vez,
quando estava a cerca de 30 km/h, dois homens pularam, cada um numa porta (na boleia)
do caminhão. Portavam uma espingarda e um revólver. Mesmo não reagindo, levei
uma coronhada. Roubaram meu telefone celular, R$ 350 em dinheiro e outros
pertences.”
Jorge
Alcântara Ferreira, de 49, é outra vítima da insegurança na malha viária. Morador
de Montes Claros e há 22 anos no asfalto, ele conta que foi assaltado três
vezes. Numa delas, os ladrões levaram o celular, o rádio do caminhão, o relógio
e grande quantia em dinheiro. Mas o pior foi ter sido amarrado numa plantação
de eucaliptos próxima a Salinas, no Norte de Minas.
Fonte: Fetropar
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