sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Negros representam 70,6% dos desempregados na RMF



Estudo elaborado pelo IDT aponta as insistentes desigualdades raciais presentes no mercado de trabalho da Capital
 
A população negra ainda sofre com a desigualdade no mercado de trabalho da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), onde responde por 70,6% do contingente de desempregados. Além da maior dificuldade de inserção, o negro está mais presente no trabalho precário sem carteira assinada, como autônomo e no emprego doméstico. Os dados são da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) Especial População Negra divulgada ontem, pelo Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), vinculado à Secretaria Estadual do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), e o Departamento Intersindical e Estudos Socioeconômicos e Estatísticos (Dieese).

Conforme o estudo, entre 2009 e 2010, houve geração de 83 mil postos de trabalho na RMF, contribuindo para a redução da taxa de desemprego total de 11,4% para 9,4% da População Economicamente Ativa (PEA). Em números absolutos, foram contabilizados 29 mil pessoas a menos na fila do desemprego, totalizando 165 mil desempregados na RMF em 2010.

Considerando a raça, a taxa de desemprego total entre os negros ficou em 9,7% nesse ano contra 8,8% dos não negros. Em 2010, eram, respectivamente, de 12% e 10,1%.
Construção civil


Acompanhando o aquecimento da construção civil - setor que mais ampliou a participação nas ocupações em 2010 - a população negra foi a que mais cresceu no âmbito dessa atividade produtiva. No total, o percentual de trabalhadores ocupados na construção civil passou de 5,9% para 7% entre 2009 e 2010. Já a participação dos negros aumentou no mesmo período de 6,5% para 8,1%. "Isso ocorre porque esse é um setor de atividade, que se caracteriza por ter ocupações mais precárias", explica Erle Mesquita, técnico do IDT.
Horas trabalhadas
Em relação à jornada de trabalho, os negros também estão em desvantagem, segundo o estudo. A jornada média de trabalho dessa fatia da população na RMF é de 44 horas semanais contra 43 horas dos não negros. No que diz respeito às formas de inserção ocupacional, o assalariamento formal no setor privado aumentou de 35,2% para 37,7% do total de ocupados entre 2009 e 2010. Entretanto, os negros são destaque na inserção em ocupações mais precárias, como o assalariamento sem carteira, o trabalho autônomo e o serviço doméstico. "Mais da metade ou 50,7% dos ocupados da população negra está presente nessas três formas de inserção, um porcentual bem superior aos dos não negros nas respectivas posições na ocupação", observa Erle Mesquita.
Setor público

O levantamento mostra que, em termos proporcionais, há menor inserção de negros no setor público, onde, em geral, estão as melhores condições de trabalho, envolvendo planos de cargos e salários e remunerações melhores do que no setor privado. Em 2010, enquanto o rendimento médio real dos assalariados na iniciativa privada foi de R$ 810,00, no setor público o valor foi em média de R$ 2.083,00. A diferença de renda, segundo o estudo é da ordem de 24%. "A cada R$ 100,00 pagos ao trabalhador negro, o não negro ganha R$ 124,00", explica.

Para Luiz Bernardo, coordenador das Políticas de Proteção da Igualdade Racial da Prefeitura de Fortaleza, há ainda outros pontos nevrálgicos, que não são detalhados na pesquisa, como a inexistente participação do negro nas áreas de saúde, turismo e educação. "Não temos médicos e técnicos de saúde negros. Só a elite branca se forma em medicina nesse país. Vemos que a população negra não tem representatividade no receptivo turístico. O negro pode trabalhar no bar, mas nunca o vemos numa recepção. Representamos 51% da população brasileira, mas não temos destaque na educação. Setores que reproduzem ideologias nesse país estão órfãos da participação da população negra", denuncia.
Ângela Cavalcante

Repórter



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