O julgamento do processo
prossegue na segunda-feira após divergência do ministro revisor e do relator
Brasília. Os atores do mensalão frequentam dois cenários distintos em Brasília. Nos dias de sessão do Supremo Tribunal Federal (STF), à tarde, advogados e ministros guardam distância protocolar e, não raras vezes, os bacharéis são tratados rispidamente. À noite, entretanto, se confraternizam.
A apenas 5,4 km do STF, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, o ministro do Supremo, Marco Aurélio Mello, e advogados dos réus do mensalão participaram de uma festa que invadiu a madrugada de quinta-feira. Algoz dos réus, Gurgel celebrou com os advogados o 80º aniversário de José Gerardo Grossi no salão de um hotel, em Brasília. Grossi é ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Também estavam lá, Arnaldo Malheiros e Alberto Toron, defensores do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e do deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP), respectivamente.
Um dos primeiros a chegar, Gurgel recebeu, ao lado da mulher, a subprocuradora, Cláudia Sampaio, o advogado Márcio Thomaz Bastos com caloroso abraço. "O embate acontece lá. Aqui, é confraternização", justificou Gurgel. Ao lado dele, estava o antecessor Antonio Fernando Souza, autor da denúncia e alvo dos advogados.
Cercado de advogados, Marco Aurélio brincou com Toron, ausente de Brasília quando Joaquim Barbosa pediu a condenação de seu cliente: "Vou cortar seu ponto", disse.
O jantar terminou com um show de gaita. No repertório, o tema de "O Poderoso Chefão". "Foi uma festa absolutamente democrática", disse Grossi.
Julgamento
Ontem, o ministro Marco Aurélio expressou preocupação de que o julgamento da ação penal sobre o mensalão não termine neste ano. Ele pediu racionalização dos trabalhos da Corte e que a palavra seja passada aos demais ministros após os votos do relator, Joaquim Barbosa, e do revisor, Ricardo Lewandowski, sobre o primeiro item da denúncia analisado pelos magistrados.
Lewandowski concluiu na quinta-feira seu voto sobre o capítulo da denúncia que trata sobre o suposto desvio de recursos do Banco do Brasil e da Câmara dos Deputados. Ele divergiu do relator ao absolver os quatro réus acusados de desviar recursos da Câmara, entre eles João Paulo Cunha e o empresário Marcos Valério, acusado de ser o operador do suposto esquema.
Ao término do voto do revisor, Barbosa disse que começaria a sessão de segunda-feira pedindo a palavra para rebater os pontos levantados pelo colega, que pediu então que também tivesse a palavra para contrapor o relator.
O ministro falou sobre o voto divergente de Lewandowski e sobre uma possível disputa entre o relator e o revisor do processo. "Se eu pudesse dar um peso maior a um pronunciamento no Supremo, daria àquele formalizado por maioria de votos, não a uma só voz. Mesmo porque, já dizia Nelson Rodrigues, toda unanimidade é burra", disse.
Críticas
O ministro revisor disse ontem que já esperava críticas por seu voto pela absolvição de João Paulo e afirmou não pautar suas decisões pela opinião pública. Defendeu a independência do Judiciário e que os magistrados não temam "pressões de qualquer espécie". Sob fogo cruzado por seu voto neste momento, o mesmo Lewandowski já foi acusado no passado de buscar aplauso da opinião pública ao defender a aplicação da Lei da Ficha Limpa nas eleições de 2010.
"Já esperava as críticas, as incompreensões, isso faz parte do nosso trabalho. Mas eu tenho certeza de que o Brasil quer um Judiciário independente, um juiz que não tenha medo de pressões de qualquer espécie", disse.
Disse ainda não se preocupar se vencerá a disputa com Barbosa. "Nós, que vivemos em um ambiente colegiado, estamos acostumados a divergir, a ver nossas posições vencedoras ou perdedoras. Isso faz parte. Nós não levamos nada pessoalmente, nós defendemos teses. Não é a nossa pessoa que está em jogo, é o destino dos réus".
O revisor afirmou que nos próximos itens ele e Barbosa podem abreviar a exposição em plenário fazendo a distribuição do voto aos colegas. "Eu tenho certeza de que nós podemos melhorar o nosso processo, nossa metodologia de julgamento, abreviando os votos". "Vamos fazer o possível para que esse processo tenha um curso célere", finalizou.
Brasília. Os atores do mensalão frequentam dois cenários distintos em Brasília. Nos dias de sessão do Supremo Tribunal Federal (STF), à tarde, advogados e ministros guardam distância protocolar e, não raras vezes, os bacharéis são tratados rispidamente. À noite, entretanto, se confraternizam.
A apenas 5,4 km do STF, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, o ministro do Supremo, Marco Aurélio Mello, e advogados dos réus do mensalão participaram de uma festa que invadiu a madrugada de quinta-feira. Algoz dos réus, Gurgel celebrou com os advogados o 80º aniversário de José Gerardo Grossi no salão de um hotel, em Brasília. Grossi é ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Também estavam lá, Arnaldo Malheiros e Alberto Toron, defensores do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e do deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP), respectivamente.
Um dos primeiros a chegar, Gurgel recebeu, ao lado da mulher, a subprocuradora, Cláudia Sampaio, o advogado Márcio Thomaz Bastos com caloroso abraço. "O embate acontece lá. Aqui, é confraternização", justificou Gurgel. Ao lado dele, estava o antecessor Antonio Fernando Souza, autor da denúncia e alvo dos advogados.
Cercado de advogados, Marco Aurélio brincou com Toron, ausente de Brasília quando Joaquim Barbosa pediu a condenação de seu cliente: "Vou cortar seu ponto", disse.
O jantar terminou com um show de gaita. No repertório, o tema de "O Poderoso Chefão". "Foi uma festa absolutamente democrática", disse Grossi.
Julgamento
Ontem, o ministro Marco Aurélio expressou preocupação de que o julgamento da ação penal sobre o mensalão não termine neste ano. Ele pediu racionalização dos trabalhos da Corte e que a palavra seja passada aos demais ministros após os votos do relator, Joaquim Barbosa, e do revisor, Ricardo Lewandowski, sobre o primeiro item da denúncia analisado pelos magistrados.
Lewandowski concluiu na quinta-feira seu voto sobre o capítulo da denúncia que trata sobre o suposto desvio de recursos do Banco do Brasil e da Câmara dos Deputados. Ele divergiu do relator ao absolver os quatro réus acusados de desviar recursos da Câmara, entre eles João Paulo Cunha e o empresário Marcos Valério, acusado de ser o operador do suposto esquema.
Ao término do voto do revisor, Barbosa disse que começaria a sessão de segunda-feira pedindo a palavra para rebater os pontos levantados pelo colega, que pediu então que também tivesse a palavra para contrapor o relator.
O ministro falou sobre o voto divergente de Lewandowski e sobre uma possível disputa entre o relator e o revisor do processo. "Se eu pudesse dar um peso maior a um pronunciamento no Supremo, daria àquele formalizado por maioria de votos, não a uma só voz. Mesmo porque, já dizia Nelson Rodrigues, toda unanimidade é burra", disse.
Críticas
O ministro revisor disse ontem que já esperava críticas por seu voto pela absolvição de João Paulo e afirmou não pautar suas decisões pela opinião pública. Defendeu a independência do Judiciário e que os magistrados não temam "pressões de qualquer espécie". Sob fogo cruzado por seu voto neste momento, o mesmo Lewandowski já foi acusado no passado de buscar aplauso da opinião pública ao defender a aplicação da Lei da Ficha Limpa nas eleições de 2010.
"Já esperava as críticas, as incompreensões, isso faz parte do nosso trabalho. Mas eu tenho certeza de que o Brasil quer um Judiciário independente, um juiz que não tenha medo de pressões de qualquer espécie", disse.
Disse ainda não se preocupar se vencerá a disputa com Barbosa. "Nós, que vivemos em um ambiente colegiado, estamos acostumados a divergir, a ver nossas posições vencedoras ou perdedoras. Isso faz parte. Nós não levamos nada pessoalmente, nós defendemos teses. Não é a nossa pessoa que está em jogo, é o destino dos réus".
O revisor afirmou que nos próximos itens ele e Barbosa podem abreviar a exposição em plenário fazendo a distribuição do voto aos colegas. "Eu tenho certeza de que nós podemos melhorar o nosso processo, nossa metodologia de julgamento, abreviando os votos". "Vamos fazer o possível para que esse processo tenha um curso célere", finalizou.
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