Três avenidas visitadas pelo O POVO apresentaram falhas quanto ao nivelamento do asfalto, mais alto que a calçada. Pedestres, especialmente pessoas com deficiência, sofrem.
A psicóloga precisou do dobro de atenção para chegar ao outro lado da rua. Tateou o chão cuidadosamente com a bengala. Os passos eram miúdos. Do contrário, Ana Kristia da Silva Martins, 23, cairia no fosso de dois palmos e meio entre uma das calçadas e a pista.
Cega desde os 18 anos em decorrência da evolução de um glaucoma, ela aceitou o convite do O POVO de visitar vias onde o excesso de asfalto aplicado pela Prefeitura de Fortaleza comprometeu quesitos básicos de acessibilidade.
A situação mais delicada encontrada pela reportagem foi no encontro da avenida Antônio Sales com a rua Nogueira Acioly. Não bastasse o drible dado na coluna de uma loja que “engoliu” parte do passeio da avenida, a jovem lidou com três desafios: a falta das faixas de pedestres (há somente sinalização vertical), o nível elevado do asfalto em relação à calçada da rua e a distância entre os dois pavimentos de ambas as vias.
Qualquer descuido resultaria em acidente. Ou algo mais grave, diante do intenso fluxo de veículos da Antônio Sales. “Em situações assim, tenho que contar com a sorte de alguém parar e me ajudar ou com o meu ouvido mesmo. Se vier um carro mais novo, desses mais silenciosos, posso morrer atropelada”, lista Ana Kristia.
Recorrência
Na avenida Santos Dumont, são inúmeras as ocorrências. É possível diagnosticar problemas em quase toda a via recapeada. Há pontos em que o canteiro central é apenas um filete de concreto.
Algo agravado pelo estado de conservação de algumas calçadas e a irrisória quantidade de rampas de acesso a pessoas com deficiência (física e visual) ou com a mobilidade comprometida (idosos e gestantes).
Situação similar na rua Tibúrcio Cavalcante. Há asfalto demais para calçada de menos nos cruzamentos com a avenida Santos Dumont e a rua Desembargador Leite Albuquerque. Ao ponto de caber um pé número 41 inteiro na distância entre calçada e asfalto.
Um risco, especialmente para a senhorinha que corta a rua em direção ao supermercado a passadas pra lá de despreocupadas. Além de facilitar o escoamento da água da chuva e, consequentemente, o alagamento do passeio. “Numa rodovia, você pode subir meio metro do asfalto sem tanta preocupação, porque o trânsito é quase que exclusivamente de veículos. Numa cidade, isso não pode acontecer nunca”, critica o coordenador do Laboratório de Mecânica dos Pavimentos (LMP) do curso de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jorge Soares.
SERVIÇO
Solicite recapeamentos.
Fala Fortaleza: 0800285 0880
SER I: 3433 6800
SER II: 3216 1800
SER III: 3433 2501
SER IV: 3433 2800
SER V: 3433 2900
SER VI: 3488 3181
SER do Centro: 3105 1333
300
MIL toneladas de asfalto serão utilizadas pela Prefeitura até dezembro, seja em tapa-buracos ou recapeamentos.
90
milhões. Esse será o valor pago por insumos e serviços de 2011 inteiro. Em 2010, foram R$ 40 milhões. Em 2009, R$ 20 milhões.
845
vias foram beneficiadas por trabalhos de tapa-buracos e/ou recapeamentos de janeiro a outubro deste ano. Mais 129 km receberão reparos.
Ao contrário do que muita gente pensa, o asfalto não é o produto que vemos sendo aplicado em ruas e avenidas por equipes da Prefeitura. Aquilo é a massa asfáltica, resultado de uma mistura de asfalto (líquido fornecido pela Petrobras) com os chamados agregados (areia, pó de pedra, brita, arisco etc).
Desde agosto, a Prefeitura atua com duas usinas de asfalto. Uma pertence ao poder público municipal, enquanto a outra foi terceirizada e fica em Maracanaú.
Para recapear 1km de pavimento, utiliza-se, em média, 1.000 toneladas de massa asfáltica. O trecho custa cerca de R$ 200 mil aos cofres públicos.
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