A Prefeitura de Fortaleza planeja restringir o trânsito de caminhões em toda a Capital. Os veículos de grande porte ficariam proibidos de trafegar de 6h30min às 8h30min e de 17h às 19h, horários em que o trânsito tradicionalmente é mais complicado. O projeto foi discutido, na manhã de ontem, entre gestores dos órgãos de trânsito municipal, estadual e federal, na sede da Polícia Rodoviária Federal.
Ainda sem prazo para entrar em vigor, a proibição deve valer para todas as vias, incluindo as rodovias federais e estaduais em trecho urbano, entrada de carga para a Capital. A medida pretende melhorar a fluidez de veículos na Capital nos horários de pico.
O comandante da Polícia Rodoviária Estadual (PRE), tenente-coronel Túlio Studart, diz que o projeto não é para prejudicar os caminhoneiros. “É sim para facilitar a coletividade. Alguns veículos são pesados demais, vão lentos e causam engarrafamento”, cita. O projeto de restrição, destaca o comandante, é “embrionário”. O tamanho do caminhão que será restrito, inclusive, ainda não foi definido.
Segundo o presidente da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), Ademar Gondim, que participou da reunião, a medida faz parte da política de incentivo ao transporte público do Município.
“Nesse horário, a prioridade seria o transporte de passageiros, quer através do transporte coletivo, quer através do transporte individual. Nosso objetivo é melhorar o transporte de passageiros na cidade, já que a carga pode sofrer mudanças de horário”, diz.
O segundo passo após a restrição seria o estabelecimento de faixas prioritárias para ônibus em grandes avenidas, cita Gondim. “Estamos no primeiro passo para a restrição de carga. Isso terá que ser negociado com as diversas atividades econômicas que tem relação com isso e juntos vamos construir alternativas”, destaca.
Fiscalização
Desde fevereiro de 2010, caminhões com peso total acima de 2,5 toneladas não podem circular nos bairros Aldeota e Meireles e em mais 16 corredores de Fortaleza. A ação atual é uma ampliação da resolução já existente, que “cumpriu completamente” as expectativas, segundo Fernando Bezerra, presidente da Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e Cidadania (AMC).“Conseguimos praticamente zerar a grande problemática que tinha na Aldeota. É um sucesso a ponto que queremos ampliar esse tipo de atitude para outras áreas”, avalia.
Bezerra destaca que o projeto será construído em parceria com a sociedade. “Só será executado o trabalho, que estamos começando, depois que contatarmos todos os empresários envolvidos”, reforça o presidente da AMC.
ENTENDA A NOTÍCIA
A restrição atinge muitos setores da economia. Por isso, ela ainda será discutida. Na próxima terça-feira, os órgãos de trânsito se reúnem com empresas de transportes e o MPE para discutir as possibilidades da medida.Extensão da proibição gera controvérsia
Para caminhoneiros ouvidos pelo O POVO, a viabilidade da medida depende das empresas de transporte. “É ruim porque os caminhões não têm lugar pra andar. Isso prejudica”, comenta Nacélio Lemos, 43. “Depende se as empresas aceitariam. Porque concessionárias recebem as entregas de manhã”, lembra o goiano Emerson Nunes, de 30 anos. “As empresas vão ter que mudar o horário de recebimento”, diz o catarinense Cladir Mariani, 48.
“Não vai melhorar em nada. Não é o caminhão que atrapalha. Falta infra-estrutura”, declara o paulista Márcio Francelino, 38.“Esse é o exato horário que a gente transporta para a cidade”, cita Rubens de Lima, 50, do Espírito Santo. Ele lembra que a restrição já acontece em São Paulo. “Lá as empresas compraram carros menores para as entregas”, diz ele.
O projeto gerou questionamentos no Sindicato das Empresas de Transporte e Logística do Estado do Ceará (Setcarce). Informado da proposta pelo O POVO, o presidente da instituição, Clóvis Nogueira Bezerra, diz que a ideia precisa ser “muito bem pensada” e debatida para que não haja “um colapso no abastecimento” da Capital.
“Os horários são complicados porque as empresas têm cronograma para recepcionar mercadoria. Deveriam chamar esse setor também para discutirmos juntos e a gente chegar a um bom lugar”, sugere. As empresas, reforça Clóvis, estão “abertas para procurar a melhor maneira para que não sejamos entrave do trânsito de Fortaleza”. (ML)
Fonte: Jornal O Povo
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