quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Cegonhas deixam trânsito mais lento

Apesar da restrição, veículos pesados circulam nas ruas da Capital fora do horário permitido pela AMC

Em algumas vias de Fortaleza, além dos engarrafamentos ocasionados pelo grande fluxo de veículos, a presença diária de caminhões-cegonha que estacionam e circulam em locais proibidos vem atrapalhando os motoristas e deixando o trânsito ainda mais lento. O problema aparece para aumentar a lista de irregularidades que podem ser percebidas por toda a cidade.

Nas avenidas Heráclito Graça, Engenheiro Santana Júnior, Júlio Ventura, Sargento Hermínio, Aguanambi e Washington Soares, devido à presença maciça de concessionárias, os casos são vistos com maior frequência.

Há mais de dois anos dirigindo um caminhão-cegonha de 22 metros e percorrendo diversas capitais brasileiras, o paulista Anderson Teles Feitosa, de 26 anos, tem consciência de que o seu trabalho "embaça" o trânsito. Contudo, diz que precisa descarregar os veículos e entregá-los intactos às concessionárias.



Segundo ele, o tempo gasto para estacionar varia de acordo com o lugar. Para realizar a manobra na Rua José Vilar, por exemplo, no espaço compreendido entre as ruas Bárbara de Alencar e Júlio Ventura, na Aldeota, Anderson gasta mais de meia hora. Enquanto a manobra não é realizada, o trecho fica bloqueado e uma fila enorme de carros com motoristas buzinando e esbravejando se forma.
Mesmo com uma placa da Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania (AMC) indicando que é proibido estacionar no local, de segunda a sexta, das 7 às 19 horas, os motoristas dos caminhões-cegonha não obedecem, param em qualquer horário e ficam sujeitos às multas.

"A multa vai para o dono da carreta, mas o dinheiro é descontado do nosso salário", explica Anderson, dizendo que não tem outra alternativa, pois precisa fazer o seu trabalho. "Os gerentes pedem para que a gente descarregue os carros na porta da concessionária", completa.

Sem estrutura


Ele destaca que as concessionárias de Fortaleza se diferenciam de revendedoras de outras capitais porque não têm estrutura para receber os automóveis. Em cidades como Recife e Salvador, explica, grande parte das lojas tem depósitos para alocar os caminhões-cegonha e não prejudicar o tráfego.

Ele também reclama da falta de instrução por parte dos agentes de trânsito. "É muita cobrança e pouca orientação", afirma.

De acordo com a AMC, todos os grandes corredores da Aldeota fazem parte da área de restrição de circulação de caminhões com tara acima de 2,5 toneladas. Estes veículos de grande porte não podem circular por esses locais entre as 7 e 20 horas, de segunda a sexta-feira. Aos sábados, a proibição é das 7 às 13h.

Multa


A multa para quem cometer a infração é de R$ 85,00 e quatro pontos na carteira de habilitação. Caso o condutor se recuse a cumprir a determinação, os agentes de trânsito são autorizados a remover o veículo.

A AMC orienta que, nos locais onde é permitido estacionar, as empresas realizem o serviço de carga e descarga em horários de menos movimento para evitar engarrafamentos.

2,5% da frota da cidade são caminhões


Até setembro deste ano, de acordo com dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), Fortaleza tinha 760.747 veículos. Destes, 19.268 ou 2,5% estão na categoria de caminhões, um percentual que parece não ser tão representativo assim.

Porém, a quantidade de caminhões que circulam diariamente na Capital é muito maior, tendo em vista que muitos desses veículos vêm de outras cidades cearenses e de outros Estados para distribuir as mercadorias.

"O caminhão-cegonha é problemático em qualquer horário do dia. Deveria haver uma regulamentação para que eles circulassem somente à noite. É preciso sensibilizar os donos das concessionárias, porque eles não trabalham a questão da hora", afirma o presidente do Sindicato dos Caminhoneiros do Ceará (Sindicam), José Tavares Filho.

Quanto aos outros veículos com tara acima de 2,5 toneladas, como os caminhões-baú, Tavares acredita que a AMC deveria oferecer mais áreas para carga e descarga, principalmente no Centro, Aldeota e Mucuripe.

"Praticamente não existe área demarcada. Por isso, muitos estacionam em lugares não permitidos. Os caminhões menores causam menos transtornos", destaca o presidente do Sindicam.

Falta fiscalização


Para o promotor de Justiça Gilvan Melo, coordenador do Núcleo de Atuação Especial de Controle, Fiscalização e Acompanhamento de Políticas de Trânsito (Naetran), os problemas no trânsito se resumem apenas à falta de fiscalização da AMC.

"No caso dos caminhões-cegonha, a demora para fazer a manobra é grande e o trânsito não anda", enfatiza Melo. Na opinião do promotor, para acabar com os transtornos, o ideal seria que, além da aplicação da multa, a AMC apreendesse o veículo em situação irregular. "Se levassem o carro, a situação não se repetiria. Os agentes não veem e, quando veem, aplicam a multa e vão embora".

Uma das propostas do Naetran já apresentadas à AMC para resolver o problema nas vias de grande circulação de veículos de Fortaleza, conforme o promotor Gilvan Melo, é que a carga e descarga dos caminhões com tara acima de 2,5 toneladas sejam realizadas somente das 21 horas às 6 da manhã.

RAONE SARAIVA

ESPECIAL PARA CIDADE

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