quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

CE TEM UM MEDICO PARA CADA MIL HABITANTES É UM CAOS


Um homem que buscou atendimento na emergência da Santa Casa de Misericórdia na manhã de ontem morreu antes mesmo de receber socorro médico. Sérgio Norberto Teixeira, 39, chegou pela manhã ao hospital acompanhado por sua mulher, Kátia Oliveira, após ter passado mal em casa, no bairro Álvaro Weyne.

Um total de 54% dos profissionais optou pelas especialidades, principalmente a pediatria e a ginecologia

Dos atuais 9.262 médicos em atividades no Ceará, um montante de 5.038 é especialista, 54% do total, conforme dados da Demografia Médica no Brasil, mapeamento divulgado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Apesar dessa tal “bonança”, a comerciante, Neuda Matos, 50, diz esperar há mais de três meses por uma visita ao urologista com seu pai doente.

A prova desta dificuldade de Neusa e de outras centenas de usuários é a atual proporção médico por habitante, que se encontra na razão de 1,1 para cada mil habitantes. Este cenário insere o Ceará na 7ª pior posição brasileira no ranking que avalia distribuição dos profissionais entre a comunidade.
“Quem está precisando de especialidades médicas, principalmente para idosos e crianças, tem sofrido muito com a ausência deles”, reclama Neusa. Para a comerciante, é mais fácil encontrar generalistas.
Ela relata também os dias de espera em longas filas, a demora para o recebimento de exames e feitura de um rotineiro check-up. “Se dizem que tem quase 10 mil médicos para o povo, cadê todos eles?”, indaga.

Divisões

Entre as cinco maiores categorias no Estado, a pediatria ganha de todas, com 712 profissionais em atividade, deixando em segundo lugar os ginecologistas e obstetras (575); os anestesiologistas (437), em terceira posição; os cirurgiões gerais (427), na quarta, e os clínicos médicos (349), em quinto lugar.
Entre as mais “minguadas”, o mapeamento aponta a genética médica, com apenas um médico para todo o Ceará, e três cirurgiões de mãos para atender toda a demanda cearense.

O mapeamento revela ainda que o Brasil possui 204.563 especialistas e 167.225 generalistas. No entanto, conforme o estudo do CFM, as desigualdades regionais são gritantes. A região Sul contabiliza, por exemplo, o maior número de especialistas (1,95 para cada um generalista), contrapondo com a região Norte (0,83) e Nordeste (0,96).
Para agravar ainda mais o cenário, a concentração de profissionais ainda é grande na Capital, 51% trabalham em Fortaleza, não querem se arriscar, tentar ganhar a vida no Interior.

O presidente do Conselho Regional de Medicina do Ceará (CRM-CE), Ivan Moura Fé, lamenta essa situação e relata que a dificuldade, entretanto, não se restringe ao serviço público.

“Temos muitas carências também na rede privada, nas áreas de endocrinologia e de neurologia. A medicina da família ainda é pouco presente apesar de toda a real necessidade”, frisa.

O presidente do CRM-CE aponta que a maior dificuldade, hoje, é conseguir manter os médicos nos sues postos, visto que, segundo ele, os salários não seriam tão tentadores. Ele frisa um outro ponto, o crescimento da participação de mulheres na medicina, um total de 38,4%.

Pediatria

Para o presidente da Cooperativa dos Pediatras do Ceará (Cooped-CE), João Borges, apesar dos especialistas ainda serem a maioria, há muitos deles - em especial, os pediatras - que estão abandonando a carreira.
“Pelo menos uns 40% dos pediatras do Ceará está alargando o ramo. Estão desestimulados por demais. Quem não realiza procedimento cirúrgico, fica só em consultório, sofre bem mais”, finalizou Borges.

PEDIATRIA
Fortaleza enfrenta carência nas emergências

Embora a pediatria seja a especialidade mais procurada pelos médicos no País, Fortaleza enfrenta uma carência de pediatras nas emergências das unidades de atendimento secundário. Segundo o coordenador de gestão hospitalar da Prefeitura, Helly Ellery, apenas uma média de 70% do quadro de pediatras que deveriam trabalhar no setor atuam de fato nas emergências dos hospitais secundários.

Conforme o coordenador, um dos motivos para o fato é a emergência ser um campo que tem atraído poucos profissionais. "Hoje, a emergência é um lugar de tensão", acentua.

Ellery informa que as unidades secundárias passarão, em 2012, por um reordenamento que dividirá especialidades de acordo com o perfil de cada hospital. A pediatria do Frotinha do Antônio Bezerra, diz, será transferida para o Gonzaguinha da Barra do Ceará, que, por sua vez, transferirá seu atendimento clínico para o Antônio Bezerra. Segundo o coordenador, não haverá redução nos atendimentos.
Ivna Girão e João Moura
Repórteres

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