SINDICAM-CE: INFORME AOS CAMINHONEIROS

Ministro dos Transportes pede desculpas aos cearenses

Plano de recuperação das rodovias federais vai custar mais de R$ 1 bilhão. Serão contemplados 1,7 mil Km

"Estou aqui, exclusivamente para cumprir minha obrigação e pedir desculpas ao povo do Ceará, pelos imprevistos ocorridos e pelo estado em que se encontram as rodovias federais", disse o ministro dos Transportes Alfredo Nascimento, ontem, na visita que fez ao Estado e anunciou a liberação de recursos para a restauração da malha viária de responsabilidade do Governo Federal. A frase "peço desculpas ao povo do Ceará", foi repetida várias vezes durante o dia de ontem pelo ministro.

Na sede do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), em Fortaleza, foi anunciado o plano de recuperação das rodovias federais do Ceará, que vai custar mais de R$ 1 bilhão. Ao todo, serão 1,7 mil quilômetros de estradas contempladas, o que corresponde a 77% da malha viária pavimentada do Estado. Segundo o ministro Alfredo Nascimento, a BR-222, onde a situação é mais grave, será completamente reestruturada em um prazo de dois anos.

De acordo com o ´Plano de Intervenções´ apresentado pelo diretor-geral do Dnit, Luiz Antônio Pagot, serão mais 1,7 mil quilômetros de rodovia recuperados, na primeira etapa, 317 km de rodovias serão restaurados, sendo que 116 Km passarão por recuperação e 56 Km serão construídos ou duplicados, além desse total, 400 Km de malha viária passarão por manutenção pelo mesmo período de execução das obras.

Na BR-222 será totalmente recuperado um trecho de 199,2 Km, entre os municípios de Fortaleza a Tianguá. "O que o povo do nosso município quer é a recuperação do trecho que passa de Caucaia, para depois torná-lo municipal e assim o município possa ser responsável pela sua conservação", disse o prefeito de Caucaia, Washington Goes (PRB). O ministro prometeu estudar a propostas.

Mas não foi só prefeito de Caucaia que cobrou. Moradores da comunidades de Jabuti, município de Eusébio, reclamaram da demora na construção de uma passarela que se arrasta desde 2009. "Aqui nada foi falado sobre as passarelas. Estou aqui para entregar uma coletânea de reportagens feitas pelos meios de imprensa sobre a nossa reivindicação. Queremos saber quando vai se reiniciada a obra que deveria está pronta em setembro de 2009", disse Francisco Antônio da Costa, representante daquela comunidade que entregou pessoalmente ao ministro o envelope com os dados coletados.

Em seguida ouviu do diretor-geral do Dnit, que a obra será retomada em 30 dias. "Se isso não acontecer dentro desse prazo Pagot, alguém vai sofrer as consequências", alertou em tom de ameaça o ministro Alfredo Nascimento.

Outras autoridades estaduais estiveram no auditório do Dnit, tais como: o ex-governador do Estado Lúcio Alcântara, o prefeito de Umirim, José Afrânio e de Eusébio, Acilon Gonçalves. Após o anuncio do conjunto de ações para melhorias das rodovias federais, o ministro Alfredo Nascimento, comandou o ato de assinaturas de contratos e autorizações.

Em seguida ele viajou para Umirim. "Vamos continuar cobrando. Se possível toda semana. Apresentando relatórios do que já foi executado", finalizou o deputado padre Zé Linhares. Lúcio Alcântara e o prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa, não acompanharam o ministro na vistoria em Umirim.

Na solenidade ontem no município de Umirim, onde um grupo de manifestantes aguardava o ministro, ele fez novamente a mea-culpa, com relação as divergências com o governador Cid Gomes (PSB). Sempre ladeado pelos deputados federais Padre Zé Linhares (PP), Arnon Bezerra (PTB), Danilo Forte (PMDB) e Gorete Pereira (PR), o ministro fez um discurso rápido. "Vocês tem mesmo motivo para tanta reclamação. Os parlamentares reclamam e o governador do Estado também e com toda razão", disse, enquanto comparava a malha viária do Ceará com a de outros estados vizinhos.

Promessas

Pelo menos, a primeira etapa da promessa feita por Alfredo Nascimento de visitar o Ceará e liberar recursos para a recuperação das estradas foi cumprida, resta agora saber se o Dnit cumprirá a segunda etapa - o calendário de conclusão das obras federais que estarão a partir de agora em execução no Estado.

Sem querer entrar no mérito da briga com o governador Cid Gomes, Alfredo Nascimento foi enfático ao responder aos repórteres quando indagado sobre a situação, durante evento que marcou o inicio das obras de recuperação das oito estradas federais que passam pelo Ceará. "Hoje estou aqui para isso para pedir desculpas pelos imprevistos ocorridos e pela situação das estradas federais".

WILSON GOMES
COLABORADOR

MÁ CONSERVAÇÃO
BR-222 é uma das piores do Brasil

A vinda do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, ao Ceará, ontem, quando visitou um dos trechos mais críticos da BR-222, a partir do Km 90, em Umirim, trouxe à tona a discussão em torno do estado crítico da rodovia, considerada uma das piores do País. Empresários e permissionários do setor de transporte público municipal contabilizam os prejuízos, que vão desde perdas econômicas a transtornos aos clientes.

O péssimo estado de conservação da rodovia foi motivo do ´Rally da BR-222´, no dia 15 de maio, convocado pelo próprio o governador Cid Gomes, após protagonizar uma querela com o ministro que foi parar na Justiça. O organizador do evento, Wellington Macedo, afirma que o trecho mais crítico da BR-222, vai do município de Umirim até Itapajé, está sendo trabalhado, mas de forma paliativa.

"Queremos que seja colocada uma camada de asfalto e de boa qualidade. Não basta só tampar os buracos", disse, prometendo, junto com a sociedade, monitorar os trabalhos. "Vamos recolher amostras do material para serem analisadas pela Universidade Federal do Ceará", disse, com a finalidade de garantir a qualidade do serviço.

Wellington Macedo atenta para o fato de que o tráfego da BR-222, em sua maior parte, é pesado. Ou seja, composto por ônibus, caminhões e carretas, uma vez que é caminho para escoar parte da produção do Estado. Outro trecho crítico é verificado de Fortaleza a Sobral. "Os buracos parecem lombadas", diz.

Outras partes são cheios de remendos. Afirma que não basta remendar, sendo necessário colocar nova camada de asfalto e, a partir de agora, ser feito um trabalho preventivo. A vinda do ministro dos Transportes ao Ceará é vista como "resultado da mobilização popular", resultado do ´Rally da BR-222´. Admite que o problema é antigo.

Desconfiança"A gente vê sempre com desconfiança", afirma Wellington Macedo, referindo-se à crise na cúpula do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), no ano passado. Na sua opinião, para evitar desvios de verbas, o Ministério Público Federal deve acompanhar a aplicação dos recursos para a realização das obras na BR-222. Disse que como pressão do Rally, o governo liberou R$ 450 milhões. Os prejuízos para Fonte: Diário do Nordesteos empresários e permissionários de transporte intermunicipal chegam a onerar em até 40% a folha das empresas.

Este é o caso da Empresa Guanabara, obrigada a desviar a rota de alguns percursos devido ao estado precário da BR-222. Conforme Ricardo Viana, gerente de manutenção da Empresa Guanabara, aponta como maior prejuízo "o tempo perdido pelos usuários". Uma viagem para Sobral, cujo tempo médio é de três horas, devido ao estado da rodovia, pode chegar a cinco horas.

"Muitas pessoas perdem consultas", observa, lamentando que os moradores de algumas cidades como Forquilha e Itapajé foram prejudicados. Outro problema, "o passageiro se sente inseguro porque o carro oscila ao passar pelos buracos".

O perigo é quando os caminhões trafegam na contramão, fugindo da buraqueira. O tráfego se tornou inviável, sendo necessários desviar pela CE que liga Fortaleza a Itapipoca. "Consideramos este o principal prejuízo". Além dos custos, quebra de suspensão, aumento de combustível e desgaste com pneus. "A gente absorve todo o prejuízo", desabafa, explicando que por ser ônibus de linha, cuja concessão é feita via licitação do Estado, a empresa não pode alterar a tarifa. Diferente das empresas que operam com fretes, por exemplo.

MalabarismosOutro agravante: o risco de colisão com veículos que fazem verdadeiros malabarismos para não cair nos buracos da BR-222. Esclarece que o problema não é de hoje e nem em decorrência da quadra chuvosa. "Ocorre há cerca de um ano a um ano meio", diz, afirmando que é necessário um trabalho corretivo e de prevenção.

A situação de conservação da BR-222 é tão precária, a ponto de os permissionários questionarem: vale a pena ou não continuar fazendo a rota.

"Os prejuízos com a quebra de molas e gastos com pneus não compensam", reclama César Nobre, atual presidente da Federação das Cooperativas de Transportes Alternativos de Passageiros do Estado do Ceará (Fecoopace).

Segundo ele, os veículos não podem trafegar a 80Km, fazendo com que o tempo das viagens aumente em até duas horas. "O trabalho deve ser definitivo e não apenas paliativo", diz.