sexta-feira, 19 de julho de 2013

Força e delicadeza juntas



Dirigir um veículo pesado há pouco tempo era um trabalho duro e cansativo. Os motoristas que atravessavam o País no volante de um caminhão carregado, além da privação de ficar muito tempo longe da família, sofriam com o desgaste físico provocado pela dificuldade de guiar, por tanto tempo, um veículo tão grande. Isso vem mudando, a tecnologia, que antes estava presente apenas em carros esportes luxuosos, passou a fazer parte, também, da vida dos caminhoneiros, tornando seu trabalho mais fácil. Além de reduzir o tempo da rota, favorece para que a viagem seja mais confortável e segura.

O transporte rodoviário ainda é o principal meio de escoar a produção nacional, portanto, um grande número de pessoas trabalha a bordo de um caminhão, cruzando as cidades brasileiras. Por isso o cuidado de investir em tecnologias que melhoram o dia a dia do motorista reflete em lucro para o empresário.

Há sete anos, Hugo de Araújo Rodrigues é vendedor de uma das maiores concessionárias de caminhões de Goiânia. A bordo de um dos modelos mais completos da marca, ele mostrou como é mais fácil a vida dos caminhoneiros hoje em dia. Com direção elétrica, câmbio automático de 12 marchas e ar-condicionado digital, o caminhão, com toda sua grandeza, deixou de ser um bruto para se tornar um veículo delicado em seu modo de dirigir.

“O motorista fica mais tempo no caminhão do que na casa dele, então o veículo tem que ter muito a lhe oferecer”, explica o vendedor. Segundo ele, as tecnologias embarcadas nos caminhões não só facilitam a vida do caminhoneiro como também aumentam a rentabilidade do proprietário. “O cara trabalha bem e mais feliz, então o rendimento é melhor”, comenta.
Os caminhões estão equipados com tanta tecnologia que até mesmo aquele estereótipo do caminhoneiro malvestido e sujo de graxa já não existe mais. Hoje, ele pode se arrumar para o trabalho, da mesma forma que as pessoas que passam o dia no escritório atrás de um computador. Dirigir um caminhão não é mais um serviço pesado e exige bem mais conhecimento em informática do que força, por exemplo.

Hugo explica que a maioria dos novos modelos vem equipado com computador de bordo, retrovisor elétrico, banco com suspensão a ar e até piloto automático. “O caminhão é muito inteligente, tudo que tiver de errado ele vai indicar no painel, o motorista não precisa fazer quase nada”, mostra.

O motorista Edson José Barbosa, 51 anos, trabalha há 28 anos na profissão e afirma já ter dirigido todo tipo de caminhão. Ele fala da época em que era preciso muita força no braço para guiar um gigante desses. “Não tem como explicar isso, é muito diferente, tudo era muito mais pesado, o caminhão era mais duro, era um trabalho muito cansativo. A gente parava para descansar e não conseguia, pois o caminhão não tinha nenhum conforto”, relembra.

O colega e também motorista Romildo Guedes de Souza, 50 anos, contou como é diferente dirigir um caminhão antigo em relação a um desses modelos mais novos e completos. “A diferença é muito grande, há dez anos os caminhões não tinham nem ar-condicionado, era um sofrimento total. Hoje está bem mais facilitado, você praticamente só comanda, tudo é eletrônico e computadorizado”.

Conforto e segurança
Gerente de vendas de uma concessionária em Goiânia, que trabalha com uma das marcas de caminhões mais tecnológicos do Brasil, Fernando Murta explicou que as empresas estão investindo cada vez mais em novidades, pois a concorrência é grande, e, hoje, o consumidor tem muitas opções na praça. “O mercado mudou muito, antigamente o cliente que precisasse comprar um caminhão era obrigado a ficar com o que tinha. Hoje, tem uma concorrência bem grande e os clientes estão buscando essas tecnologias para decidir qual caminhão comprar”, relata.

Fernando conta que a marca tem prezado pelo conforto, a rentabilidade e a segurança do motorista. “O interior da cabine foi estudado para trazer uma maior dirigibilidade, quando entra em um caminhão nosso, ele não cansa tanto. Os veículos vêm equipados com tecnologia que segue o mesmo princípio da célula de segurança de um carro de Fórmula 1, que se desloca para evitar que o motorista sofra ferimentos muito graves, em caso de colisão”, explica.

O motorista Humberto Monteiro, 46 anos, dirige caminhões desde que completou 18 anos de idade e afirma que “era uma guerra” dirigir um veículo pesado naquela época. Ele faz viagens longas, ficando até 20 dias na estrada. “Antigamente você rodava 300 km e tinha que parar para descansar, agora, em uma estrada boa, dá pra rodar até 700 km diretos. O conforto é 100%, o caminhão é mais espaçoso, tem ar condicionado e a cama vem até com colchão ortopédico. A gente cansa muito menos, não tem comparação, dá pra rodar mil quilômetros sem sentir dor na coluna”, sorri.

Os bancos dessas máquinas modernas se ajustam ao corpo de cada motorista. O encosto possui uma bolsa de ar que infla ou esvazia para se adequar ao porte físico do condutor. Esse conforto aumenta a produtividade do caminhoneiro. Alguns modelos vêm equipados com um sistema de segurança que não deixa o motorista dormir quando está dirigindo. Comandado pelo computador de bordo, se o caminhão começar a sair de sua faixa, na rodovia, o banco do motorista aciona, automaticamente, um dispositivo que o faz tremer, despertando o dorminhoco.

“É seguro demais”, afirma Humberto. “Esses novos modelos são muito avançados, tem até sensor de bafômetro, que não deixa o caminhão funcionar se o motorista estiver alcoolizado. Você só bate um veículo desses por falha sua, e não do caminhão. Ele só falta falar com você. Avisa tudo”.

Treinamento
Para dirigir um caminhão desses não é preciso apenas ter habilitação compatível. Com tanta tecnologia embarcada, o motorista precisa fazer cursos para aprender a usufruir de tudo que o veículo dispõe. Ambas as concessionárias visitadas pela reportagem do Diário da Manhã, antes de entregar o caminhão ao comprador, ministra-lhe um curso, para que ele saiba manusear toda tecnologia presente no modelo.

Fernando Murta explicou que o motorista passa por curso teórico e prático, onde lhe é apresentado cada detalhe daquele modelo específico de caminhão que ele vai dirigir. “Todo motorista, na hora de receber o caminhão na fábrica, recebe um treinamento, e quando chega aqui (na concessionária) ele recebe outro treinamento. Isso é importante para que ele saiba tirar o maior proveito do caminhão”, destaca.

O motorista Romildo Guedes pontua que, com toda essa tecnologia, é exigido muito mais do motorista. “Antigamente o cara dirigia um caminhão sem escolaridade nenhuma. Hoje, o veículo tem muitas informações no painel, que é preciso ter conhecimento para decifrá-la. A tecnologia existe, está tudo mais fácil, tudo melhor, mas exige um conhecimento a mais do motorista também. Ele vai ter que se virar para entender e aprender aquilo”.

Luciano Alves Ferreira é responsável pelo treinamento em uma das concessionárias. Ele conta que, quanto mais os motoristas entenderem das tecnologias presentes nos caminhões que dirigem, mais rendimento conseguem tirar. Por isso as empresas dão tanta atenção aos treinamentos, e nenhum caminhão é entregue sem que o motorista passe pelo treino. “Nos treinamentos, a gente mostra o motor montado e desmontado e mostra o funcionamento dos sistemas de cada veículo. O motorista ganha treinamento em tudo”, ressalta.

O empresário, proprietário do caminhão, pode agora ficar mais tranquilo, pois, segundo o gerente de vendas Fernando Murta, é possível acompanhar tudo que acontece com o veículo de forma remota. Através da internet, ele recebe todas as informações do computador de bordo do caminhão. As médias de velocidade que o veículo está transitando, o consumo de combustível, as paradas que o motorista faz na estrada, tudo é registrado, e o proprietário pode acessar esses dados por meio da internet. “O dono do caminhão pode gerenciar a forma como o motorista está dirigindo”, comenta.

Esse registro também serve na hora da manutenção da máquina. Ao parar para uma revisão, o mecânico consegue, através desses dados, analisar o que pode estar causando eventuais problemas no veículo. “Tudo que o motorista faz no caminhão é detectado. Quando vem para a manutenção, tem como saber tudo que ele fez de certo e de errado”, comenta o gerente. Então é possível reeducá-lo quanto à maneira correta de dirigir, fazendo com que haja menos desgaste do veículo.


Fonte: Diário da Manhã

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